Segunda-feira,
12 de setembro, dia de visitarmos Pádua e Verona. Acordamos mais tarde que o
previsto, talvez pelo sono atrapalhado por causa do foguetório que irrompeu nos
arredores durante a madrugada. Até agora não sei o que foi aquilo. Parecia que
a cidade estava sendo bombardeada, tamanha era a barulheira. Ou então o
carregamento novo estava chegando, sei lá. Pra ajudar, de manhã chovia aos
cântaros: belo dia para fazermos nossa primeira viagem automobilística pela
Itália!
A
despeito de tudo, pegamos o Gaspa (Gasparzinho, o Peugeot 207 branco do meu
cunhado), dois GPS’s (pra garantir), e nossa fluência em língua italiana (per
favore; prego; escusi, cazzo; va fanculo) e às 08:00 caímos no mundo... no
Vêneto, para ser mais preciso.
Pádua,
nosso primeiro destino, fica a pouco mais de 80 km de Arcade, e, em teoria,
essa distância seria coberta em poucos minutos, devido às auto-estradas. Isso
EM TEORIA... Na prática demoramos umas duas horas pra chegarmos, pois nosso
querido GPS “estranhamente” nos colocava em cada caminho de roça que, ó:
putaqueopariu!!! Nisso tudo, como se eu fosse responsável pelas (des)informações
do GPS, Josi ficava com uma cara-de-bunda que não ajudava em nada. Mas
chegamos.
Chegamos,
e aí é que a jiripoca piou! Pádua tem seus 200 mil habitantes e isso dobra se
considerarmos sua zona metropolitana, ou seja, é bem grandinha. Tá, mas e a
merda do GPS que vocês levaram?, me pergunta você, nobre leitor. No que eu
digo: em Pádua o GPS até que se comportou direitinho, o problema é que na
Itália existem ruas que parecem calçadas e calçadas que parecem ruas, e as
pessoas se atiram na frente dos carros nas faixas de pedestres, inclusive os
ciclistas, que são muitos, milhares! Enfim, quase matei uma véia de bicicleta –
sim, a velharada lá anda de bicicleta pra cima e pra baixo e não raro a gente
vê bandos de múmias que fugiram de seus sarcófagos transitando livremente pelo
mundo dos vivos – e raspei o retrovisor do Gaspa num veículo que é uma cruza de
caminhão com moto. Ainda bem que o dono não estava por perto, senão, com a mais
absoluta de todas as certezas, iria me passar uma descompostura em italiano que
eu teria que escolher entre duas opções: ou sentar e chorar; ou matar o
camarada com uma voadora ninja no estilo Lindomar, o Sub-Zero Brasileiro. Isso
sem contar a surra que eu tomaria do meu cunhado Junior quando ele visse o
retrovisor arranhado. MAAAAAAAS, chegamos ao estacionamento (logicamente não
fiquei esperando o dono da cruza de caminhão com moto aparecer) da basílica de
Santo Antônio. Basílica esta que, afinal de contas, era nosso principal
interesse em Pádua.
Desci do
carro desesperado e fui direto ver o estrago no retrovisor. E lá estavam as
duas riscas verdes, uma ao lado da outra, paralelas, como duas cicatrizes
gangrenadas na pele branca do Gasparzinho. Ali eu pensei: É!... fudeu!!! Já
resignado ante o fato consumado, resolvi passar o dedo indicador umedecido (eu
jurava que se escrevia “umidecido”, afinal é “úmido”, e não “úmedo”, mas o
revisor ortográfico me corrigiu) com cuspe nos arranhões. Foi quando operou-se
o milagre: miraculosamente, pela intercessão de Santo Antônio, a graça de Deus
se manifestou e os arranhões se misturaram com a saliva contida no meu dedo e
escorreram pela pintura alva a imaculada do Gasparzinho!!! Resumindo a ópera:
era só a tinta do outro “carro” que havia manchado o retrovisor, não havia
arranhão nenhum.
Bom, milagre
realizado, nada mais justo que irmos agradecer ao santo in loco, junto ao seu
túmulo. Então bora pra basílica! Ôpa! Peraê! Tem que pagar o estacionamento
antes. Mas como? Onde? Já sabíamos que haveria uma máquina onde teríamos que
apertar uns botões, enfiar umas moedas, apertar mais uns botões e pegar um
papelzinho. Muito simples. Tinha uma véia fazendo isso na maquininha e,
enquanto aguardávamos, fiquei observando o que a véia fazia para fazer igual. Chegou
minha vez. Olhei pra máquina, a máquina olhou pra mim, e não rolou. A sorte é
que a véia ainda estava por perto e era muito simpática. Aí me dirigi até ela e
fiz umas mímicas misturadas com uns grunhidos supostamente em italiano. Ela
entendeu (sou foda na mímica! diguidin diguidin) e me explicou as paradas. Na
verdade ela praticamente fez todo o processo pra mim. E ainda me disse que era
pra colocar o papel em cima do painel do carro, o que eu fiz muito agradecido.
Avistamos,
finalmente, a basílica. Grande e imponente. Não entendo nada de arquitetura,
mas a parte externa da Basílica, com suas abóbadas e cúpulas, me lembra
construções bizantinas. Após o impacto da primeira vista tiramos várias fotos
do seu exterior e entramos. O interior não chega a ser embasbacante, mas
existem muitas estátuas e pinturas interessantes nas capelas laterais e nas
colunas, pena que não se pode fotografar lá dentro. Numa parte elevada à
esquerda se encontra a tumba do santo, sempre ladeada por uma multidão que
procura tocar a tumba enquanto reza. Fizemos nós também nossas orações (a
primeira de muitas em muitas igrejas!) e nos dirigimos para a parte do
claustro. Não sei quantos pátios o claustro possui, mas eu contei uns quatro. Em
um deles me deparei com a famosa estátua de Santo Antônio e o Menino. Tirei
mais uma penca de fotos, da estátua, do claustro, das flores, e da basílica
vista dali de dentro, e fomos para a salinha onde vendem lembrancinhas.
Compramos umas medalhinhas e vazamos.
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Basílica de Santo Antônio, em Pádua |
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Um dos pátios do claustro da basílica |
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Estátua de Santo Antônio e o Menino |
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Foto "acidental" dentro da basílica de Santo Antônio |
Do lado
de fora novamente, nos informamos com um camelô sobre a direção da basílica de
Santa Giustina. Pegamos a rua que ele apontou (a pé, pois eu não iria me
arriscar de carro no centro à-toa) e depois de andar uns minutos chegamos numa
praça elíptica grandaralhaça, com um espaço externo que é usado como feira, e
um fosso delimitando a parte interna. Esse fosso é margeado por várias
estátuas, que agora eu não me lembro de quem são. Na verdade não é que não me
lembre, é que não sei mesmo, pois são muitas e eu não olhei todas. Há várias
pontes sobre o fosso, ligando a parte externa à parte interna da praça, e bem
no meio há um laguinho com um chafariz. Depois descobri com a mulezinha da
lanchonete em que fizemos um lanche que a praça, no todo, é chamada de Prato
della Valle, ou, simplesmente, Il Prato. É uma das maiores ou a maior, não
entendi direito, praça da Itália. A parte interna ao fosso é chamada de Isola
Memia, ou algo parecido. Ficamos ali um tempo fazendo o reconhecimento da praça
e tirando várias fotos, inclusive da basílica de Santa Giustina, que fica bem
em frente ao Prato, e depois rumamos para ela.
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Uma das pontes que liga a Isola Memia ao Prato |
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Chafariz na Isola Memia |
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Basílica de Santa Giustina vista da Isola Memia |
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De frente para a basílica de Santa Giustina |
Do lado
de fora a igreja lembra muito a basílica de Santo Antônio, apesar de não ser
igual. Já do lado de dentro ela é bem mais simples, sem muitos ornamentos. No
claustro e seus subterrâneos tem umas coisas interessantes de se ver, tipo a
tumba de São Carlos não sei o quê, e uma caixa de metal contendo uma coisa que
eu ainda não descobri o que é, mas que pertenceu a São Lucas. Estava escrito “La
vecchia cassa di San Luca”. Fiquei sabendo depois que o corpo de São Lucas está
em Santa Giustina, mas não creio que uma das maiores relíquias do cristianismo
possa ficar exposta do jeito que estava a vecchia cassa, de modo que não sei o
que era aquilo. Baú? Caixa? Caixão? Maleta com os apetrechos médicos do santo
(ele era médico)? Não sei. Se alguém souber, responda aê.
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Altar principal da basílica de Santa Giustina |
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Detalhe interno da cúpula da basílica |
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Uma das capelas laterais na basílica de Santa Giustina |
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La vecchia cassa di San Luca, seja lá o que for |
Saímos de
Santa Giustina e regressamos para Santo Antônio. Pegamos o carro no
estacionamento e nos mandamos para Verona. Josi jura que foi nessa hora que eu
acertei o retrovisor do Gaspa no outro veículo, e eu acho que ela está certa,
mas é que a história ficou tão boa do outro jeito que eu vou deixar do jeito
que está. Bom, de Pádua até Verona são 90 km, mais ou menos. Logo, logo
estaríamos lá. Note que eu disse ESTARÍAMOS, porque a desgraça do GPS continuou
colocando a gente em caminhos de roça e vilarejos no cu-do-mundo! Setecentas
horas depois, quando, finalmente, chegamos à Verona, foi que eu intuí que a
porcaria do GPS estava evitando auto-estradas por ter sido “instruído” para
isso. O pão-duro do camarada (e aê, Tequinho, beleza!?) que me emprestou o GPS
o programou para evitar pedágios, ou seja, evitar as auto-estradas.
Depois de
termos rodado uns duzentos trilhões de quilômetros dentro de Verona, entrando
em áreas proibidas, ruas em contramão (não quero nem ver quando as multas
chegarem!), tudo para achar uma porra de uma vaga livre em algum
estacionamento, encostamos o carro e fomos para a maquininha de cobrança. Dessa
vez foi fácil, pois já estava escolado. Lembra que eu disse que o dia amanheceu
chuvoso e tal? Pois é, mas o tempo mudou e às 14:00 em Verona estava fazendo um
calor insuportavelmente abafado filadaputa! Suávamos e o suor não evaporava...
Mas, somos brasileiros e não desistimos nunca! Mandamos o calor para a
putaqueopariu e fomos rodar pela cidade.
Verona é
uma cidade bem bacana, com um casario antigo – quando eu falo antigo,
lembrem-se que estávamos na Itália, e lá o antigo é beeeeeeeem antigo mesmo –
bem conservado e muitas atrações de diferentes épocas, desde a Roma antiga até
o Renascimento. Infelizmente nós não tínhamos tempo disponível para ver tudo,
inclusive porque em um dia só não se vê tudo, então escolhemos as tradicionais
e mais turísticas: a Arena e a casa de Julieta. Primeiro procuramos pela Arena,
e não foi difícil encontrar. Ela fica ao lado da Piazza Bra. É uma sensação
muito estranha e emocionante você ir andando por uma rua estreita, com casario
antigo e, de repente, avistar ao final dessa rua um “fóssil” gigante construído
no século I da era cristã. Alguém até pode achar exagerada essa minha
descrição, mas, seja como for, a gente não vê isso todo dia.
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De repente a gente dá de cara com a Arena |
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Vista parcial da Piazza Bra |
É
inevitável associarmos a Arena de Verona ao Coliseu de Roma. Apesar de bem
menor que o Coliseu, tanto em diâmetro quanto em altura, a Arena é bem mais
conservada e seu exterior impressiona muito. Procuramos a bilheteria e
compramos o Verona Card, que dá direito a entrada em várias atrações. Mesmo pra
nós, que só iríamos a umas duas ou três, o Verona Card sai mais em conta do que
pagar as atrações em separado. De posse das entradas, o que fizemos? Entramos,
né!? Primeiro rodamos pelos corredores que ficam sob a muralha. Depois, então,
adentramos na arena propriamente dita. Tipo: devia ser o maracanã da época.
Hoje em dia eles utilizam a arena como palco para óperas, que ocorrem todas as
noites, praticamente. E isso meio que tira um pouco do “gramú” da coisa, pois
no centro da arena tem um palco moderno armado, e a maior parte da arquibancada
está tomada por cadeiras para os expectadores. Pode ser até confortável, mas
quebra o clima histórico. Enfim, vale a visita, lógico, mas o impacto da vista
exterior é insuperável.
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A Arena de Verona |
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Nas entranhas da Arena |
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A tribuna de honra |
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A única parte que sobrou dos arcos superiores |
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Vista geral da Arena, com o palco para óperas. Na antiguidade devia ser o Maracanã local. |
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Nos escondendo dos leões |
Nem sei a
hora que era quando saímos da Arena, só sei que estávamos varados de fome,
então sentamos em um dos diversos restaurantes que existem em volta da praça
Bra e de frente para a Arena. O que comemos? Adivinha! Macarrão, né!? E pra
beber eu pedi uma deliciosa coca-cola (sim, chatões, coca-cola! Estava dirigindo
e não podia encher a cara), e Josi uma fanta, para me acompanhar. A fanta
européia tem a mesma cor da água onde foram cozidas algumas batatas, e o gosto
segue a mesma linha. Eles dizem que não há corantes, nem conservantes e nem
flavorizantes no refrigerante. Pode até ser mais saudável, mas o sabor é uma
bosta!
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Na mão de Josi a fanta anêmica da Europa |
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A pasta nostra de cada dia |
Pedimos
informação sobre a Casa da Julieta e seguimos a direção que nos apontaram. No
caminho nos deparamos com uma praçinha (piazza delle Erbe) com umas fontes
maneiras e uma feirazinha. Nessa feira, trabalhando, praticamente não havia
italianos, todos eram imigrantes, na maioria indianos e chineses. Caímos na
besteira de perguntar para um desses chineses se a torre que víamos dali da
praça era a Torre dei Lamberti, que constava no roteiro do Verona Card.
Primeiro ele fez cara de quem não estava entendendo (provavelmente não estava
mesmo), depois, com nossa insistência, disse que não era aquela e nos apontou
outra direção. Olhei bem pra cara dele e tive certeza de que ele não fazia
idéia do que estava falando. Deixei o china pra lá e fui perguntar para uma
indiana da barraca ao lado. Ela disse que não sabia... Pqp! Que merda! Os caras
trabalham numa porra de uma cidade visceralmente turística, lidam com turistas
o dia inteiro todos os dias, só estão ali, afinal, por causa da horda de
turistas que, todos os dias, faça chuva, sol ou neve, passa por ali comprando
quinquilharias e sempre pergunta as mesmas coisas sobre os pontos turísticos, e
com tudo isso eles não sabem responder a uma pergunta comum sobre um ponto
turístico que faz sombra sobre o local de trabalho deles!!! Pelamordedeus! É o
cúmulo da falta de preparo, de tato, de inteligência mesmo. Puto da vida, me
dirigi a outra barraca, onde pensei ter identificado alguém com semblante livre
de estupidez e o argui no meu excelente inglês sobre a torre. Ele disse que era
aquela mesma e me indicou o caminho por onde eu acharia a entrada. Porra! Tão
simples! Foi aí que Josi pediu uma água com gás pro camarada e ele disse o
preço em português ao entregar a garrafa... O cara era brasileiro, e eu lá,
gastando o inglês que não possuo para pedir informação.
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Piazza delle Erbe |
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Piazza delle Erbe |
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Torre dei Lamberti vista da Piazza delle Erbe |
Já na
bilhteria para subir a torre, apesar do Verona Card, tivemos que pagar 1€ cada um para
usarmos o elevador. Pode crer: vale a pena pagar! A torre tem 84 m e subir isso
tudo por escada não me parece uma atitude muito inteligente, quando temos à
disposição um elevador. No elevador lembro de ter visto uma folha com um monte
de coisinhas escritas em italiano, inglês e alemão, mas eu não estava com paciência
para ler aquilo tudo. Quando o elevador chegou ao seu destino e abriu as portas
pudemos ver o quão alto estávamos. A vista de Verona dali de cima é muito, mas
muito foda!!! E olha que não estávamos no topo ainda, pois havia umas boas
dezenas de degraus em uma escada em caracol até o topo. Subimos e chegamos até
um lugar onde havia três sinos: um grande no meio e dois menores nas laterais.
Olhamos a vista dali e depois eu percebi que ainda dava para subir mais um
pouco. Josi arregou, pois suas pernas estavam doendo, mas eu queria subir para
tirar fotas maneiras. Continuei subindo e aí uma coisa me veio na cabeça: essas
porras desses sinos tocam? Ainda gritei para Josi lá embaixo perguntando isso,
e perguntando as horas, mas ela não me deu confiança, então continuei subindo.
Vi que havia outro sino lá em cima, maior que o outro, e fui subindo... Até que
cheguei ao topo. Caralho!!! Que visual foda! E eu estava ali sozinho, não havia
mais ninguém. A torre era só minha. Fiquei ali, embasbacado, só olhando, por um
tempo, depois comecei a tirar fotos. Foi quando aconteceu a hecatombe! Achei
que o mundo estivesse acabando: Béééén! Um arrepio frio percorreu minha coluna
e fez com que até os cabelos do meu cu se arrepiassem. Béééén! Um litro de
adrenalina foi despejado em minha corrente sanguínea. Béééén! Minha respiração
foi suspensa. Béééén! Senti o sangue se esvair das minhas faces. Béééén! Quis
gritar, mas não consegui. Béééén! Não me caguei porque não tinha merda pronta.
Béééén! Aí me dei conta de que era a porra do sino que estava batendo.
PUTAQUEPARIU!!! Que susto do caralho! Comecei a rir sozinho, não sei se
realmente achando graça ou se de nervoso, só sei que uma garota branca como uma
vela (devia ser dinamarquesa, sueca ou norueguesa) que vinha subindo as escadas
olhou para mim como se eu fosse demente. Desci as escadas com vergonha e quando
cheguei onde Josi estava ela quase se mijava de rir e dizia que havia me
avisado. Avisado o caralho!!! Quando ela parou de rir resolvemos descer. Aí
que eu fui ler os recados do elevador... Lá dizia: ATENÇÃO, O SINO TOCA DE MEIA
EM MEIA HORA. Nessa hora que eu juro que eu não xinguei.
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Palazzo della Ragione com a torre |
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Verona do alto da torre. A Arena ao centro. |
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Verona do alto da torre |
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Uma das pontes |
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O Palazzo della Ragione visto do alto da torre |
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Sinos bonzinhos |
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Sino malvado |
A Torre
dei Lamberti faz parte do conjunto do Palazzo della Ragione. Já que estávamos
ali, resolvemos dar uma olhada. O palácio é um quadrilátero com um pátio no
interior. Ficamos neste pátio admirando a construção, inclusive a torre. Em um
dos lados do quadrilátero há uma escada, a Scala della Ragione, que leva até
uma porta no alto do palácio. Essa escada deve ser famosa, pois tem até uma
placa com o nome dela... vai saber. Se havia algo mais a ser visto nesse
palácio, não sabemos, pois não ficamos pra ver. Já estava entardecendo e ainda
teríamos que visitar a casa da Julieta. O leitor mais desavisado (burrão,
mesmo) pode estar se perguntado: “Quem é essa tal Julieta que ele tanto fala?
Será uma conhecida dele que mora em Verona?” Bom, se alguém realmente se fez
essas perguntas, eu não vou me dignar a responder. O que interessa é que
rodamos, rodamos, rodamos e encontramos a tal casa.
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Palazzo della Ragione |
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Scala della Ragione |
É praticamente
impossível passar em frente à casa e não notar que há algo diferente ali.
Primeiro porque há sempre um enxame de gente (japoneses na maioria) nos
arredores; segundo porque os muros estão completamente pichados com cores
berrantes, o que destoa do tom sóbrio do resto das casas; terceiro porque tem
uma placa de todo tamanho dizendo CASA DI GIULIETTA. A porta indicada por essa
placa não é a porta da casa, e sim de uma vila. Sabe a vila do Chaves? Pois é,
a Casa da Giulietta é numa vila como aquela. No pátio da vila, ao fundo, está a
famosa estátua da Julieta, com o bronze já desgastado em seu seio direita, de
tanto o povo tirar foto segurando ali. Há uma tradição (!) que diz que dá sorte
fazer isso. Eu não acredito muito nisso não, mas, pelo sim, pelo não, melhor
não dar chance pro azar. O foda é que, assim como eu, trocentas pessoas queriam
fazer a mesma coisa. E o que acontece quando muitas pessoas querem fazer a
mesma coisa? Fila! E lá estava eu na fila, aguardando pacientemente chegar a
minha vez de apalpar as brônzeas tetas da Julieta, quando um povo sem noção foi
chegando e tomando a frente, saindo na foto dos outros... Josi, que estava com
a câmera para tirar uma foto minha, queria matar uma dúzia de pessoas das mais
diferentes nacionalidades. Com muito custo consegui me agarrar à peitola da
Juju (intimidade pouca é bobagem!), mas não consegui me livrar dos malas: nas
duas tentativas de foto dois véios babacas diferentes resolveram dividir a cena
comigo. Na hora queria mandá-los tomarem em seus respectivos cus em suas
respectivas línguas pátrias, para que entendessem a minha ofensa, mas depois
fiquei com pena: os véios só queriam apalpar um peitinho durinho, tadinhos! Hahahaha!
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Acho que a foto dispensa legendas |
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Pátio da vila do Chaves, digo, da vila da Julieta |
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Primeira tentativa de bolinar a Juju |
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E a segunda tentativa... velho fdp! |
No lado
direito da vila, quase em frente à estátua, fica a famosa casa da Julieta.
Entrar nela é bem mais fácil que tirar foto com o peito da moça na mão, por um
motivo simples: a foto é de graça, e na casa você paga para entrar. A atração
está incluída no Verona Card. Josi entrou primeiro e subiu as escadas para
chegar até o famoso balcão na janela do segundo andar, enquanto eu fiquei no
meio da muvuca embaixo, do lado de fora, para tirar as fotos. No geral as
pessoas que chegavam ao balcão olhavam pra baixo enquanto eram fotografadas, e
pronto. Quando Josi chegou na sacada e começou a fazer poses, cheia de caras-e-bocas, a platéia começou a aplaudir.
E, ao invés de ficar com vergonha, aí é que ela fazia mais e mais poses, para
delírio dos seus fãs... Eu mereço!!!
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O famoso balcão da casa da Julieta |
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Josi fazendo micagens no balcão |
Depois do
ataque de estrelismo de Josi eu também entrei na casa. Nada demais, a não ser
os quadros e gravuras que recriam as cenas onde Shakespeare discorreu sobre o
amor entre Romeu e Julieta, e sobre ódio entre as famílias Montecchio e
Capuleto. Legalzinho, mas nada demais. Na saída da vila, num ataque de
vandalismo, Josi rabiscou nossos nomes em uma das paredes: outra tradição do
lugar... Dizem que garante felicidade no amor. Mas a julgar pelo final da
história de Romeu e Julieta, sei não... Te esconjuro, Pé-de-pato! Mangalô três
vezes!
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Eu e o Shake (Shakespeare) |
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Josi vandalizando em Verona |
Bom,
quase cinco da tarde, era hora de ir embora. Pegamos o Gaspa e, dessa vez,
programamos a miséria do GPS para aceitar caminhos com pedágio (auto-estradas).
E Verona foi ficando para trás. Ahn? O quê, curioso leitor? Se eu voltaria a
Verona? Sim, com certeza. Nem tanto pelo que vimos, que também foi muito
interessante, mas pelo que NÃO vimos. Explico: Verona, pelos seus mais de dois
mil anos de história, merece uma visita com mais tempo. Sendo bastante
restritivo, pelo menos uns dois dias inteiros. Praças, igrejas, castelos,
arenas, teatros, templos, pontes... é muita coisa pra ser vista! E nós não
vimos praticamente nada. Basta dizer, por exemplo, que Verona foi a única
cidade visitada em que não entramos em NENHUMA igreja. Isso sem falar da noite veronese, que deve ser bem interessante.
Em suma, quero voltar, e com mais tempo.
A 150
km/h a viagem de retorno foi rápida e tranquila, pelo menos até nos
avizinharmos de Veneza, onde teríamos que abandonar a auto-estrada em que
estávamos para pegar outra na direção de Treviso. Aí fudeu tudo! A desgraça do
GPS despirocou e nos fez cair numa cidadezinha do tamanho de um ovo de pardal.
Aí o ignóbil leitor dirá: “Ah! Se era assim tão pequena, deve ter sido muito
fácil achar o caminho certo.” Fácil PORRANENHUMA, seus zés-bucetas!!! Parecia
que estávamos num filme non-sense: rodávamos,
rodávamos, rodávamos, e passávamos pelos mesmos lugares, e o satanás do GPS só
falava baboseira: dobre a direita, onde não havia rua à direita; contorne a
rotatória, onde não havia rotatória; dobre na puta-que-o-pariu à esquerda, onde
não havia puta-que-o-pariu... Até que desliguei o miserável e decidi seguir as
placas. Finalmente saímos da micro-cidade, e caímos em outra!!! Êta, porra!
“Josi, liga esse caralho desse GPS pra ver se ele se encontra aqui.” GPS
ligado, o estupor nos diz para entrar numa rua sem saída. Quando eu manobrava
para sair da rua sem saída – Ôpa, péra aê! Se a rua era sem saída, como eu
manobrava para sair dela? Ah! Não sei. Só sei que o fato é que quando eu
manobrava para sair da rua sem saída o infame do GPS resolveu recalcular o
percurso, e travou. Agora peço ao persistente leitor que se imagine dentro de
um carro, numa cidade de um país estranho, com sérias dificuldades de
comunicação com os nativos, já perto de anoitecer, perdidaralhaço, sem fazer a
mínima idéia de qual caminho o conduzirá rumo à segurança da casa de seus
familiares, E COM UMA PORRA DE UM GPS COM UMA VOZ FEMININA ROBÓTICA REPETINDO
INSISTENTEMENTE, EM ITALIANO, RRRRICALLLLCULANDO...
RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO...
RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO...
RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO (...) RRRRICALLLLCULANDO..........................
Porra! Vai tomar no caralho do cu, desgraça do inferno!!! “Josi, desliga
essa buceta (note, leitor de merda: essa buceta = GPS)!” Pra resumir: depois de
nos perdermos em mais trezentas micro-cidades, finalmente encontrei um camarada
que me deu uma informação decente. Seguindo a dica dele consegui encontrar a
auto-estrada certa, e aí a bosta do GPS se encontrou no mundo, e chegamos em
Arcade às 20:00. Ufa!!!
Ah! Em
casa descobri que o limite de velocidade era de 130 km/h.