Sexta-feira, 9 de setembro, cansados da viagem acordamos lá pelas
09:00. Junior e Kéia já haviam saído para trabalhar. Tomamos o café e ficamos
ali, olhando um para a cara do outro. O que fazer para matar o tédio que nos
matava?
- Ah!, sei lá, de repente poderíamos ir almoçar ali em Veneza.
- É, já que não há nada melhor...
Hahahahahaha! Tá, eu sei, nobre leitor, que o diálogo acima está
pra lá de esnobe, mas foi justamente o que aconteceu. Então bora pra Veneza.
Seria nossa primeira aventura, só nós dois, num mundo desconhecido, com pessoas
de idioma e costumes estranhos. Na verdade já havíamos feito exatamente a mesma
coisa (ir pra Veneza sozinhos) há pouco menos de dois anos, mas isso não vem ao
caso.
Bom, primeiro teríamos que pegar um ônibus de Arcade até Treviso,
e lá pegar o trem até Veneza. Lá fomos nós para a pracinha da igreja de Arcade.
Compramos os bilhetes do ônibus com a mocinha da loja de badulaques e nos
informamos sobre onde era o ponto de ônibus. Ela nos indicou um local específico
na praça, que eu entendi ser em frente a uma placa azul com um P. Ficamos ali
parados, esperando, e nada. Daí notei que em volta de toda a praça havia placas
azuis com P’s. Caraca!, não é possível que haja tantos pontos numa praça
minúscula como essa! Aí que a ficha caiu: o P era de parcheggio, estacionamento, e não de ponto de ônibus, que é fermata, parada. E nós sabíamos as duas
coisas, mas comemos mosca. Entramos num barzinho pra perguntar direito sobre
onde era a fermata. Agora sim,
estávamos no lugar certo, em frente ao ponto, era só esperar. Esperamos...
esperamos... esperamos... esperamos mais um pouquinho... e mais... mais...
mais... Porra!, não é possível! Kéia tinha falado com a gente que havia ônibus
de meia em meia hora. Havia um quadro com os horários de ônibus, mas quem é que
entende isso?
Decifra aê, fodão! |
Me debrucei sobre este quadro como Champollion sobre a Pedra de
Roseta e, depois de um grande esforço mental, descobri que os hieróglifos ali
diziam que de 09:07 até 12:22 não haveria ônibus. Cara, isso não existe, pqp!
Voltamos frustrados para casa e esperamos até 12:00.
Segunda tentativa de pegar ônibus para Treviso: dessa vez deu
certo. Aí saímos do terminal rodoviário e fomos para a estação de trem.
Compramos os bilhetes de andata i ritorno
para Veneza e logo, logo estávamos no trem.
Fato a ser ressaltado: em janeiro de 2010, em nossa primeira
viagem fora do Brasil, já havíamos ido a Veneza com a parentada e amigos
brasileiros que moravam na região de Treviso, quando, por ser perto, decidimos
ir novamente a Veneza, só que dessa vez sozinhos. Compramos os bilhetes Treviso
x Veneza, entramos no trem e nos acomodamos muito satisfeitos com nossa proeza.
Passado um tempo depois que o trem já estava em movimento surgiu ele, O
FISCAL!!! Na Europa, de um modo geral, não há cobradores nos transportes
públicos (trens, bondes, metrôs e ônibus), de modo que, se a pessoa quiser, ela
viaja de um lado pro outro sem pagar nada. Então por que as pessoas compram os
bilhetes?, me pergunta o desavisado leitor. Porque existe ele, O FISCAL. Não
existe um fiscal para cada viagem, e é até raro ver um. MAAAAAS, se ele entrar
e pegar alguém sem bilhete é polícia na certa, e multa de uns 200 €, fora a
vergonha. Então, voltando ao caso, eis que surge ele, O FISCAL. Começou a pedir
os bilhetes da galera e quando chegou a nossa vez eu dei aquele sorriso
desdenhoso de canto de boca, como quem diz “comigo você se fudeu”, e entreguei
a ele nossos tickets. Ele olhou, falou alguma coisa em italiano e apontou o fim
do vagão. Olhei pra Josi, que pela cara também não havia entendido porra
nenhuma... Olhei de volta para o fiscal e imitei a cara de Josi. Aí ele apontou
novamente o fim do vagão e disse algo em inglês, do que eu só entendi first class. Mas bastava isso. Pqp!, estávamos
num vagão de primeira classe com bilhetes de segunda, e o camarada nos
convidava gentilmente a nos retirarmos para o vagão correspondente. Nos
levantamos e, sob o olhar reprovador do fiscal e dos outros passageiros, nos
arrastamos, cobertos de vergonha, para o outro vagão. Dessa vez ficamos
velhacos com isso e entramos no vagão certo. Meia hora depois estávamos na
estação de Santa Lucia, em Veneza.
Na mesma proporção em que alguns se derramam em elogios para
Veneza, já vi muita gente se dizendo decepcionada e descendo a lenha na cidade.
Eu penso o seguinte: uma cidade onde as ruas são canais; onde táxis, ônibus e
carros, mesmo os da polícia, as ambulâncias e os do serviço de coleta de lixo,
são lanchas; que pela sua localização privilegiada foi o centro do comércio e
do poder do velho mundo durante séculos, e com isso recebeu influências
culturais diversas que se refletem em seu casario único e em uma imensidade de
becos e ruelas labirínticas é, no mínimo, uma cidade digna de se conhecer, nem
que seja para se dizer depois que não gostou. Eu gostei. Muito! Pode até ser
que tê-la visto a primeira vez no inverno, toda nevada – um outro mundo aos
meus olhos tropicais – tenha relevante contribuição sobre a impressão que tive,
mas o fato é que Veneza me pareceu um lugar de ficção, mágico mesmo, e foi essa
primeira impressão que ficou. Tanto é que, nessa primeira vez, quando o trem
atravessava a ponte deixando a ilha rumo ao continente, e eu via a cidade
ficando pra trás, me deu uma sensação ruim de que nunca mais iria ver aquele
lugar mágico.
Mas ali estávamos nós, menos de dois anos depois, novamente
fascinados, nas escadarias da estação de Santa
Lucia, só que num calorão do carái! A localização da estação não poderia
ser mais estratégica: você sai do trem e não vê nada demais, aí passa pelo
saguão, atravessa uma porta e, como se tivesse passado por um portal
interdimensional, se vê numa escadaria em frente a uma praça, limitada pelo
Grande Canal, e do outro lado deste o casario de arquitetura quase árabe com a
cúpula não sei de que igreja ao fundo...: SUR-RE-AL!!!
A primeira foto em Veneza, há dois anos, numa friaca brutal |
Só que estávamos ali para almoçar, devia ser mais de 14:00 e a
fome já era grande. Acho que não andamos nem duzentos metros e topamos um
camarada que ficava na calçada à caça de fregueses para um restaurante. Disse a
ele que queríamos comer frutti di mare.
Ele respondeu que essa era a especialidade da casa e nos mostrou um aquário com
uma lagosta que mais parecia um monstro pré-jurássico. Aproveitei para dar uma
olhada nos preços do cardápio que estava aberto ao lado do aquário: nada de
anormal. Ok, nos convenceu. Ele foi nos conduzindo restaurante adentro e,
quando vimos, estávamos numa varanda sobre o Grande Canal. Putaquepariu!, que
vista foda! Primeiro ele nos arrumou uma mesa mais interna, e depois nos trocou
para uma bem em frente à água. Engraçado que quando passava algum barco, sempre
lotado de japoneses, eles ficavam batendo foto e acenando pra gente. Nesse dia,
no começo da viagem, eu ainda achava que japoneses sem noção eram engraçados...
Pagando de bacana em Veneza |
Pedimos de entrada um prato de ostras num caldo de limão siciliano
e, pra beber, acqua frizzante – gente
fina é outra coisa! O prato principal foi spaghetti
al frutti di mare. Como dá pra perceber nas fotos abaixo, estava
sensacional!!! Acho que foi a melhor refeição da viagem, junto com a de
Herculano.
Ostras de entrada: hoje a jiripoca vai piar! |
Muito bom!!! |
Depois do almoço fomos rodar por Veneza. A primeira parada foi na
igreja de Santa Lucia (Santa Luzia),
que é bem pertinho da estação. A igreja, para os padrões de igrejas italianas,
não tem nada demais – quadros, esculturas... A maior atração, se é que assim se
pode chamar sem incorrer em blasfêmia, é o corpo de Santa Luzia, que fica
exposto dentro de uma cripta de vidro no fundo do altar principal. O rosto é
coberto por uma máscara, acho que de prata, enquanto o restante do corpo é
envolvido por uma túnica vermelha, à exceção das mãos e dos pés, que estão
visíveis. Digamos que o estado de conservação não seja dos melhores, mas dá pra
perceber as formas exatas de pés é mãos, só que a textura da pele lembra a de
folhas secas. As pessoas podem passar por trás da cripta e contemplar bem de
pertinho o corpo da santa. Não é permitido tirar foto, mas acho que a câmera
disparou sem querer e capturou uma imagem da frente da cripta, tchu ru ru ru...
Foto "acidental" do corpo de Santa Luzia |
Exterior da "Chiesa di Santa Lucia" |
Nessa manhã, antes de sairmos de casa, dei (ia escrever havia
dado, mas me soou meio estranho) uma pesquisada em pontos turísticos de Veneza,
e me chamou a atenção uma foto da igreja de Santa
Maria dei Miracoli. Resolvemos procurar a tal igreja. Em Veneza há dois
pontos turísticos muito bem sinalizados: a Piazza
San Marco e a Ponte di Rialto.
Seja qual for o lugar de Veneza em que você esteja, é muito provável que
encontre alguma placa informativa sobre a direção desses dois pontos. Já o
resto... Ou você compra um bom mapa e confia cegamente em seu senso de
orientação, ou faz como nós fizemos: sai perguntando. De dez em dez metros
perguntávamos sobre a direção da igreja. Quando eu digo aqui, e em todos os
relatos posteriores, que perguntávamos, entenda
o incauto leitor que eu perguntei.
Sim, pois Josi, diante da mera possibilidade de ter que perguntar qualquer
coisa a alguém que não falasse português, era acometida por um pavor súbito que
quase a desfigurava. Exceção feita aos vendedores de bugigangas: com esses ela
poderia passar horas a fio perguntando e entendendo as respostas, mesmo que o
interlocutor fosse um vietnamita mudo. Mas voltando à nossa saga... Lá fomos
nós no encalço de Santa Maria dos Milagres, perguntando aqui e ali,
atravessando pontes, quebrando em becos, descobrindo praças, até que chegamos
ao Campo dei Santi Apostoli, que era
a referência da igreja de Santa Maria dos Milagres. Procura daqui, olha de lá,
cadê a tal igreja? Perguntamos, nos
responderam, fomos lá e... “Peraê! Essa não é a igreja de Santa Maria dei Miracoli!” Mas era. Depois que fui saber que a
igreja que eu havia visto na internet era a de Santa Maria della Salute, que fica na foz do Grande Canal, na
margem oposta à praça de São Marcos. Puta merda! Que bola fora da porra!
Bom, já que estávamos ali, bora aproveitar. Contornamos a igreja
para apreciarmos todos os ângulos da parte externa da mesma, tiramos algumas
fotos e fomos para a porta de entrada. Não me lembro se não estava em horário
de visita ou se era necessário pagar para entrar e não nos dispusemos, só sei
que dei uma olhada para o seu interior por uma fresta da porta. Pareceu-me ser
bem bonita por dentro.
Igeja de Santa Maria dei Miracoli |
E agora? Pra onde ir? “Ah!, quer saber?, vamos pra Rialto que pelo
menos a gente sabe o que é.” E fomos. Seguimos as várias plaquinhas e chegamos
lá. A ponte de Rialto foi a primeira construída sobre o Grande Canal, e ficava
perto do mercado de Rialto, daí o nome. Por ser a ponte mais famosa de Veneza,
nem preciso dizer da quantidade absurda de japoneses que se aglomerava nela.
Por falar nisso: sei que o Japão tem uns 130 milhões de habitantes que vivem
espremidos naquele amontoado de ilhas lá deles, mas viajando pela Europa é
difícil não pensar que o Japão seja um deserto, pois a impressão que se tem é
que todos os japoneses do mundo estão exatamente no mesmo lugar que você, não
sobrando nenhum lá no Japão. E isso irrita! Ainda mais quando constatamos que
aquele papo de respeito, formalidade e educação dos orientais só existe em
filme de samurai. Na realidade os japas, pelo menos os turistas, são muito
mal-educados: andam em bando de pelo menos uns 30 atravancando a passagem de
quem quer que seja, entram na sua frente quando você está batendo uma foto,
furam fila na maior sem-cerimônia... A estratégia deles para furar fila é muito
pitoresca: eles vão chegando, sempre em bando, se aproximando pouco a pouco
pela lateral da fila, sorrindo aquele meio-sorriso sonso com uma cara estúpida
que só um japa furão de fila consegue ter, como se ninguém estivesse percebendo
que a fila à frente aumentou em umas 50 pessoas, e furam. FILHOSDAPUTA!!! E se
você bate no ombro de um deles e diz em alto e bom som para que todos ouçam,
escandindo bem as sílabas para que todos entendam, no mais perfeito inglês que
você consegue, “Ô japa da minha rôla, there
is a queue!!!”, ele vai olhar pra você sorrindo o mesmo meio-sorriso boçal
de sempre e continuar no mesmíssimo lugar, sereno como um buda. Daí, ou você
procura uma ripa para esfacelar o crânio do infeliz e de mais toda a gangue
ninja, ou se resigna e só faz xingar e amaldiçoar o bando de cornos nipônicos.
Depois deste libelo contra os japas (só contra os sonsos
mal-educados), voltemos ao Rialto. Sobre a ponte existem hoje várias lojas de ourivesaria.
Nós, como bons pobres (literalmente) mortais, nem demos importância a elas.
Tiramos, com muito custo, as tradicionais fotos com a ponte ao fundo, e depois
sobre a ponte tendo o Grande Canal como pano de fundo. E continuamos o passeio.
A Ponte de Rialto. Onde está Wally? |
Sobre a ponte |
Rumamos para a praça de São Marcos. Apesar do labirinto que é
Veneza, chegar até a praça é muito fácil: basta seguir o fluxo de turistas
(leia-se: japas!) e/ou as plaquinhas de sinalização. Isso é normal, e é o
mínimo que se espera de uma cidade tão intrinsecamente turística. Mas e quando
você se vê diante de uma placa como essa abaixo? Fala sério! Tem coisas que só
Veneza faz por você.
E agora, José, digo, Josi? |
E o pior é que é verdade! Em Veneza você pode rodar ao léu, se
perder, andar em círculos, mas vai terminar por se ver no centro da piazza San Marco, de onde se conclui,
mui acertadamente, que, pelo menos em Veneza, TODOS OS CAMINHOS LEVAM A SAN MARCO! E lá estávamos nós. De novo.
Fooooooooodaaaaaa!!!
A praça é um espaço aberto plano, em L, ladeado por várias
construções bem imponentes (mas que bem mereciam uma limpeza nas fachadas),
entre as quais eu destaco a Torre
dell’Orologio, que é, como o nome diz, uma torre com um relógio, só que com
os símbolos do zodíaco e as fases da lua, em azul e dourado; o Campanile, a gigantesca torre do sino em
frente à basílica de São Marcos; a própria basílica, que é uma das igrejas com
o exterior mais foda que eu já vi, completamente diferente do que nós aqui no
Brasil estamos acostumados, pois ela possui um estilo bizantino; e, ao lado da
basílica, o Palazzo Ducale, que no
período áureo de Veneza foi a residência do Doge (o chefe vitalício
não-hereditário escolhido pela aristocracia) e centro administrativo da cidade.
Uma das extremidades do L tem saída para o mar, bem próxima à foz do Grande
Canal.
Piazza San Marco do lado do mar (não dá pra ver a água, eu sei, mas não enche o saco!) |
Na praça, depois do embasbacamento inicial, nos dirigimos para um
ponto central e nos sentamos no chão mesmo (sentar num dos cafés da praça é o
mesmo que ser assaltado com consentimento prévio), e ficamos observando o
movimento: um monte de turistas fazendo as mais variadas poses com a basílica
ao fundo, na maioria das vezes cercados por uma nuvem de pombos que se
digladiavam em busca do farelo de pão ou milho que os turistas oportunamente
carregavam. A fachada superior esquerda (de quem olha) da basílica estava em
obras de restauro, o que acabou cagando as fotos. Também havia tapumes cercando
uma extensa área da praça por trás do Campanile
que também não contribuía para o embelezamento do lugar. Ainda assim a piazza é muito legal. Dá vontade de
ficar ali, à-toa, batendo fotos e vendo o tempo passar... Aí acabou a bateria
da câmera. Que beleza!
Nós e a basílica de San Marco |
Sentados no chão da praça |
Antes de voltarmos para a estação resolvemos dar uma olhada na Ponte dei Sospiri, que é uma pontezinha
ligando o Palazzo Ducale às masmorras
das Prigioni Nove. Tem esse nome
porque os prisioneiros julgados e condenados suspiravam profundamente ao verem
a luz do sol pela última vez quando a atravessavam em direção às masmorras.
Pois é, fomos lá ver a tal ponte. E até vimos, mas ela também estava em
reforma. E como a reforma era patrocinada pela Tim, tudo em volta da ponte
estava coberto com uma porra de um banner azul que fodia com o visual
pós-medieval da coisa. Malditos!
A cagança que fizeram com a Ponte dos Suspiros |
O caminho de volta foi uma via-sacra porque eu resolvi “cortar
caminho” e “navegar por mares nunca dantes navegados”. Quando estávamos na
Ponte dos Suspiros, ao invés de voltarmos para a praça, e de lá pelo mesmo
caminho pelo qual viemos, eu, com meu sensacional senso de orientação, decidi
ir pelo outro lado, para ir conhecendo lugares novos. Josi ainda tentou me
avisar que iria dar merda, mas eu insisti: “Take
it easy, baby! Tá comigo, tá com Deus. Eu tenho um GPS no cérebro.” Bom,
deu merda! Rodamos, rodamos, rodamos, rodamos pra caralho, até eu admitir que
não fazia a menor idéia de onde estávamos e de qual direção seguir, num lugar
pouquíssimo movimentado e sem nenhuma plaquinha de informação. É impressionante
como os becos de Veneza podem ser confusos!...
Pane no GPS cerebral |
Foi aí que avistei um véio com
cara de quem saberia me dar uma informação decente. Perguntei a ele sobre a
direção da estação de Santa Lucia...
Meu Deus, foi a nossa perdição!!! A miséria do véio quis saber de onde éramos,
onde ficávamos, o que iríamos fazer, depois contou umas estórias lá dele que eu
não entendi porra nenhuma, disse que era alemão, morava na Itália e falava
português, disse que não havia estação de trem em Veneza, só de barcos... Pqp! Que
merda de véio doido! Eu expliquei pra ele que era a estação de trem que saía de
Veneza e ia para o continente, daí ele fez uma cara de quem sabia do que eu
estava falando e tentou nos explicar o caminho. Mas, vendo que não entendíamos
nada, ele resolveu nos mostrar o caminho pessoalmente. E partiu andando na
frente, falando um monte de coisas incompreensíveis, e nós atrás dele. Eu nem
olhava direito pra Josi, pois sabia que ela estava querendo me matar. Sei que o
véio deu umas três voltas ao redor do mundo e nos deixou em um lugar que não
era muito diferente de onde havíamos nos encontrado. Fosse como fosse, agradecemos
(pelo menos ele teve boa-vontade!) e nos despedimos. Assim que saímos da vista
do homem eu achei que Josi fosse me agredir, mas ela não disse nada (o que é
bem pior que um chute nos ovos!) (ou não). Apenas tomou a frente e nos conduziu
de volta a San Marco, e de lá
seguimos o caminho tradicional para a estação. Pegamos o trem (segunda classe,
lógico) e em pouco mais de meia hora estávamos em Treviso, onde Kéia nos buscou
com o Trovão Azul e nos levou para casa, em Arcade.
À noite fomos os quatro a uma pizzaria em Treviso. Já a
conhecíamos da viagem anterior, quando, inclusive, ganhei da dona do
estabelecimento um copo (o copo mesmo, não o conteúdo) de uma cerveja artesanal
que eles servem lá. E não é que ganhei outros dois copos dessa vez também!?
Entre as cervejas que bebemos nessa noite, uma era uma cerveja branca, que veio
num copo estiloso. Foi amor à primeira vista. Chamei a mocinha simpática que
atendia nossa mesa e perguntei se os copos estavam à venda. Ela disse que não,
mas foi perguntar para a dona da bagaça. Daí a pouco volta a mocinha simpática
com uma sacola com dois copos embrulhados dentro, dizendo que era regalo. Nem liguei!!! Na hora de pagar a
conta fui com Junior até a gentil senhora dona do estabelecimento para
agradecer. Pedi a Junior que dissesse a ela que há dois anos estivemos ali e da
mesma forma ganhamos um copo dela. Ela respondeu que se lembrava da gente, vê
só! Se foi mentira ou não, eu não sei, mas que da próxima vez vou levar um
presente daqui do Brasil pra ela, ah!, isso vou! E vai ser cachaça! Os copos
ela já tem.
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