quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Europa 2011 - Capítulo V - Preparativos


Terça-feira, 13 de setembro de 2011.

Também não me lembro bem do início desse dia, mas sei que eu e Josi pegamos o Gaspa e fomos pra Treviso, numa feira livre de lá. É, abismado leitor, lá também tem camelódromo. Depois de ficarmos horas e horas dando voltas no estacionamento gratuito e tocaiando alguém que pudesse ceder-nos a vaga, conseguimos estacionar.

Nossa intenção nessa feira era comprarmos roupas para a viagem que começaria no dia seguinte. Mas, para nossa decepção, as roupas estavam bem caídas. E caras mó do saci! Bem diferente do inverno de 2009, quando compramos várias paradas maneiras a preços muito em conta. Pra não perder a viagem, tomamos um gelato sobre as muralhas da cidade antiga. E bora pra casa.

No fim da tarde Kéia deu um micro-ninja no trabalho e de lá fomos fazer uma via-sacra para comprar algumas coisas de que necessitávamos para a viagem, a saber: roupas, comida (frios, pães e biscoitos), bebida (vinho, cerveja, água com gás e água tônica), um chip para celular, um HD externo e um GPS para carro. É, porque depois do cagaço que passamos na volta de Verona nós decidimos que teríamos que atualizar a miséria do GPS de qualquer jeito. Daí eu fui olhar como que atualizava e descobri que teria que pagar 95 euros. Ah! Va fanculo! Melhor juntar mais um cadinho de dinheiro e comprar um GPS novo. Foi o que fiz, e foi a melhor coisa do mundo.

À noite ficamos por conta de arrumar a bagulhada que iríamos levar. Claro que não fizemos isso de bico seco. Abaixo seguem imagens de umas cervejinhas que bebemos enquanto Josi arrumava arrumávamos a bagagem. Se rasgue-se a si mesmo, invejoso leitor! Muahahahahahaha!!!


Sim, ELA, A LENDÁRIA!!! É alemã, e é muito boa!


Uma trapista muito boa (tá, eu sei que é redundância). Como disse o Francisco Careta: o pão líquido dos deuses!


Quando fomos dormir já era dia 14 e eu estava “levemente” bêbado. Nada mal pra quem teria que acordar às três e meia da madruga.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Europa 2011 - Capítulo IV - Pádua e Verona: santos, sinos, Shakespeare, e um GPS com possessão demoníaca.


Segunda-feira, 12 de setembro, dia de visitarmos Pádua e Verona. Acordamos mais tarde que o previsto, talvez pelo sono atrapalhado por causa do foguetório que irrompeu nos arredores durante a madrugada. Até agora não sei o que foi aquilo. Parecia que a cidade estava sendo bombardeada, tamanha era a barulheira. Ou então o carregamento novo estava chegando, sei lá. Pra ajudar, de manhã chovia aos cântaros: belo dia para fazermos nossa primeira viagem automobilística pela Itália!

A despeito de tudo, pegamos o Gaspa (Gasparzinho, o Peugeot 207 branco do meu cunhado), dois GPS’s (pra garantir), e nossa fluência em língua italiana (per favore; prego; escusi, cazzo; va fanculo) e às 08:00 caímos no mundo... no Vêneto, para ser mais preciso.

Pádua, nosso primeiro destino, fica a pouco mais de 80 km de Arcade, e, em teoria, essa distância seria coberta em poucos minutos, devido às auto-estradas. Isso EM TEORIA... Na prática demoramos umas duas horas pra chegarmos, pois nosso querido GPS “estranhamente” nos colocava em cada caminho de roça que, ó: putaqueopariu!!! Nisso tudo, como se eu fosse responsável pelas (des)informações do GPS, Josi ficava com uma cara-de-bunda que não ajudava em nada. Mas chegamos.

Chegamos, e aí é que a jiripoca piou! Pádua tem seus 200 mil habitantes e isso dobra se considerarmos sua zona metropolitana, ou seja, é bem grandinha. Tá, mas e a merda do GPS que vocês levaram?, me pergunta você, nobre leitor. No que eu digo: em Pádua o GPS até que se comportou direitinho, o problema é que na Itália existem ruas que parecem calçadas e calçadas que parecem ruas, e as pessoas se atiram na frente dos carros nas faixas de pedestres, inclusive os ciclistas, que são muitos, milhares! Enfim, quase matei uma véia de bicicleta – sim, a velharada lá anda de bicicleta pra cima e pra baixo e não raro a gente vê bandos de múmias que fugiram de seus sarcófagos transitando livremente pelo mundo dos vivos – e raspei o retrovisor do Gaspa num veículo que é uma cruza de caminhão com moto. Ainda bem que o dono não estava por perto, senão, com a mais absoluta de todas as certezas, iria me passar uma descompostura em italiano que eu teria que escolher entre duas opções: ou sentar e chorar; ou matar o camarada com uma voadora ninja no estilo Lindomar, o Sub-Zero Brasileiro. Isso sem contar a surra que eu tomaria do meu cunhado Junior quando ele visse o retrovisor arranhado. MAAAAAAAS, chegamos ao estacionamento (logicamente não fiquei esperando o dono da cruza de caminhão com moto aparecer) da basílica de Santo Antônio. Basílica esta que, afinal de contas, era nosso principal interesse em Pádua.

Desci do carro desesperado e fui direto ver o estrago no retrovisor. E lá estavam as duas riscas verdes, uma ao lado da outra, paralelas, como duas cicatrizes gangrenadas na pele branca do Gasparzinho. Ali eu pensei: É!... fudeu!!! Já resignado ante o fato consumado, resolvi passar o dedo indicador umedecido (eu jurava que se escrevia “umidecido”, afinal é “úmido”, e não “úmedo”, mas o revisor ortográfico me corrigiu) com cuspe nos arranhões. Foi quando operou-se o milagre: miraculosamente, pela intercessão de Santo Antônio, a graça de Deus se manifestou e os arranhões se misturaram com a saliva contida no meu dedo e escorreram pela pintura alva a imaculada do Gasparzinho!!! Resumindo a ópera: era só a tinta do outro “carro” que havia manchado o retrovisor, não havia arranhão nenhum.

Bom, milagre realizado, nada mais justo que irmos agradecer ao santo in loco, junto ao seu túmulo. Então bora pra basílica! Ôpa! Peraê! Tem que pagar o estacionamento antes. Mas como? Onde? Já sabíamos que haveria uma máquina onde teríamos que apertar uns botões, enfiar umas moedas, apertar mais uns botões e pegar um papelzinho. Muito simples. Tinha uma véia fazendo isso na maquininha e, enquanto aguardávamos, fiquei observando o que a véia fazia para fazer igual. Chegou minha vez. Olhei pra máquina, a máquina olhou pra mim, e não rolou. A sorte é que a véia ainda estava por perto e era muito simpática. Aí me dirigi até ela e fiz umas mímicas misturadas com uns grunhidos supostamente em italiano. Ela entendeu (sou foda na mímica! diguidin diguidin) e me explicou as paradas. Na verdade ela praticamente fez todo o processo pra mim. E ainda me disse que era pra colocar o papel em cima do painel do carro, o que eu fiz muito agradecido.

Avistamos, finalmente, a basílica. Grande e imponente. Não entendo nada de arquitetura, mas a parte externa da Basílica, com suas abóbadas e cúpulas, me lembra construções bizantinas. Após o impacto da primeira vista tiramos várias fotos do seu exterior e entramos. O interior não chega a ser embasbacante, mas existem muitas estátuas e pinturas interessantes nas capelas laterais e nas colunas, pena que não se pode fotografar lá dentro. Numa parte elevada à esquerda se encontra a tumba do santo, sempre ladeada por uma multidão que procura tocar a tumba enquanto reza. Fizemos nós também nossas orações (a primeira de muitas em muitas igrejas!) e nos dirigimos para a parte do claustro. Não sei quantos pátios o claustro possui, mas eu contei uns quatro. Em um deles me deparei com a famosa estátua de Santo Antônio e o Menino. Tirei mais uma penca de fotos, da estátua, do claustro, das flores, e da basílica vista dali de dentro, e fomos para a salinha onde vendem lembrancinhas. Compramos umas medalhinhas e vazamos.

Basílica de Santo Antônio, em Pádua


 
Um dos pátios do claustro da basílica


 
Estátua de Santo Antônio e o Menino



Foto "acidental" dentro da basílica de Santo Antônio



Do lado de fora novamente, nos informamos com um camelô sobre a direção da basílica de Santa Giustina. Pegamos a rua que ele apontou (a pé, pois eu não iria me arriscar de carro no centro à-toa) e depois de andar uns minutos chegamos numa praça elíptica grandaralhaça, com um espaço externo que é usado como feira, e um fosso delimitando a parte interna. Esse fosso é margeado por várias estátuas, que agora eu não me lembro de quem são. Na verdade não é que não me lembre, é que não sei mesmo, pois são muitas e eu não olhei todas. Há várias pontes sobre o fosso, ligando a parte externa à parte interna da praça, e bem no meio há um laguinho com um chafariz. Depois descobri com a mulezinha da lanchonete em que fizemos um lanche que a praça, no todo, é chamada de Prato della Valle, ou, simplesmente, Il Prato. É uma das maiores ou a maior, não entendi direito, praça da Itália. A parte interna ao fosso é chamada de Isola Memia, ou algo parecido. Ficamos ali um tempo fazendo o reconhecimento da praça e tirando várias fotos, inclusive da basílica de Santa Giustina, que fica bem em frente ao Prato, e depois rumamos para ela.

Uma das pontes que liga a Isola Memia ao Prato


 
Chafariz na Isola Memia



Basílica de Santa Giustina vista da Isola Memia


 
De frente para a basílica de Santa Giustina


Do lado de fora a igreja lembra muito a basílica de Santo Antônio, apesar de não ser igual. Já do lado de dentro ela é bem mais simples, sem muitos ornamentos. No claustro e seus subterrâneos tem umas coisas interessantes de se ver, tipo a tumba de São Carlos não sei o quê, e uma caixa de metal contendo uma coisa que eu ainda não descobri o que é, mas que pertenceu a São Lucas. Estava escrito “La vecchia cassa di San Luca”. Fiquei sabendo depois que o corpo de São Lucas está em Santa Giustina, mas não creio que uma das maiores relíquias do cristianismo possa ficar exposta do jeito que estava a vecchia cassa, de modo que não sei o que era aquilo. Baú? Caixa? Caixão? Maleta com os apetrechos médicos do santo (ele era médico)? Não sei. Se alguém souber, responda aê.

Altar principal da basílica de Santa Giustina


 
Detalhe interno da cúpula da basílica


Uma das capelas laterais na basílica de Santa Giustina


La vecchia cassa di San Luca, seja lá o que for


Saímos de Santa Giustina e regressamos para Santo Antônio. Pegamos o carro no estacionamento e nos mandamos para Verona. Josi jura que foi nessa hora que eu acertei o retrovisor do Gaspa no outro veículo, e eu acho que ela está certa, mas é que a história ficou tão boa do outro jeito que eu vou deixar do jeito que está. Bom, de Pádua até Verona são 90 km, mais ou menos. Logo, logo estaríamos lá. Note que eu disse ESTARÍAMOS, porque a desgraça do GPS continuou colocando a gente em caminhos de roça e vilarejos no cu-do-mundo! Setecentas horas depois, quando, finalmente, chegamos à Verona, foi que eu intuí que a porcaria do GPS estava evitando auto-estradas por ter sido “instruído” para isso. O pão-duro do camarada (e aê, Tequinho, beleza!?) que me emprestou o GPS o programou para evitar pedágios, ou seja, evitar as auto-estradas.

Depois de termos rodado uns duzentos trilhões de quilômetros dentro de Verona, entrando em áreas proibidas, ruas em contramão (não quero nem ver quando as multas chegarem!), tudo para achar uma porra de uma vaga livre em algum estacionamento, encostamos o carro e fomos para a maquininha de cobrança. Dessa vez foi fácil, pois já estava escolado. Lembra que eu disse que o dia amanheceu chuvoso e tal? Pois é, mas o tempo mudou e às 14:00 em Verona estava fazendo um calor insuportavelmente abafado filadaputa! Suávamos e o suor não evaporava... Mas, somos brasileiros e não desistimos nunca! Mandamos o calor para a putaqueopariu e fomos rodar pela cidade.

Verona é uma cidade bem bacana, com um casario antigo – quando eu falo antigo, lembrem-se que estávamos na Itália, e lá o antigo é beeeeeeeem antigo mesmo – bem conservado e muitas atrações de diferentes épocas, desde a Roma antiga até o Renascimento. Infelizmente nós não tínhamos tempo disponível para ver tudo, inclusive porque em um dia só não se vê tudo, então escolhemos as tradicionais e mais turísticas: a Arena e a casa de Julieta. Primeiro procuramos pela Arena, e não foi difícil encontrar. Ela fica ao lado da Piazza Bra. É uma sensação muito estranha e emocionante você ir andando por uma rua estreita, com casario antigo e, de repente, avistar ao final dessa rua um “fóssil” gigante construído no século I da era cristã. Alguém até pode achar exagerada essa minha descrição, mas, seja como for, a gente não vê isso todo dia.

De repente a gente dá de cara com a Arena


 
Vista parcial da Piazza Bra


É inevitável associarmos a Arena de Verona ao Coliseu de Roma. Apesar de bem menor que o Coliseu, tanto em diâmetro quanto em altura, a Arena é bem mais conservada e seu exterior impressiona muito. Procuramos a bilheteria e compramos o Verona Card, que dá direito a entrada em várias atrações. Mesmo pra nós, que só iríamos a umas duas ou três, o Verona Card sai mais em conta do que pagar as atrações em separado. De posse das entradas, o que fizemos? Entramos, né!? Primeiro rodamos pelos corredores que ficam sob a muralha. Depois, então, adentramos na arena propriamente dita. Tipo: devia ser o maracanã da época. Hoje em dia eles utilizam a arena como palco para óperas, que ocorrem todas as noites, praticamente. E isso meio que tira um pouco do “gramú” da coisa, pois no centro da arena tem um palco moderno armado, e a maior parte da arquibancada está tomada por cadeiras para os expectadores. Pode ser até confortável, mas quebra o clima histórico. Enfim, vale a visita, lógico, mas o impacto da vista exterior é insuperável.

A Arena de Verona


Nas entranhas da Arena


A tribuna de honra


A única parte que sobrou dos arcos superiores


Vista geral da Arena, com o palco para óperas. Na antiguidade devia ser o Maracanã local.


Nos escondendo dos leões


Nem sei a hora que era quando saímos da Arena, só sei que estávamos varados de fome, então sentamos em um dos diversos restaurantes que existem em volta da praça Bra e de frente para a Arena. O que comemos? Adivinha! Macarrão, né!? E pra beber eu pedi uma deliciosa coca-cola (sim, chatões, coca-cola! Estava dirigindo e não podia encher a cara), e Josi uma fanta, para me acompanhar. A fanta européia tem a mesma cor da água onde foram cozidas algumas batatas, e o gosto segue a mesma linha. Eles dizem que não há corantes, nem conservantes e nem flavorizantes no refrigerante. Pode até ser mais saudável, mas o sabor é uma bosta!


Na mão de Josi a fanta anêmica da Europa


A pasta nostra de cada dia

Pedimos informação sobre a Casa da Julieta e seguimos a direção que nos apontaram. No caminho nos deparamos com uma praçinha (piazza delle Erbe) com umas fontes maneiras e uma feirazinha. Nessa feira, trabalhando, praticamente não havia italianos, todos eram imigrantes, na maioria indianos e chineses. Caímos na besteira de perguntar para um desses chineses se a torre que víamos dali da praça era a Torre dei Lamberti, que constava no roteiro do Verona Card. Primeiro ele fez cara de quem não estava entendendo (provavelmente não estava mesmo), depois, com nossa insistência, disse que não era aquela e nos apontou outra direção. Olhei bem pra cara dele e tive certeza de que ele não fazia idéia do que estava falando. Deixei o china pra lá e fui perguntar para uma indiana da barraca ao lado. Ela disse que não sabia... Pqp! Que merda! Os caras trabalham numa porra de uma cidade visceralmente turística, lidam com turistas o dia inteiro todos os dias, só estão ali, afinal, por causa da horda de turistas que, todos os dias, faça chuva, sol ou neve, passa por ali comprando quinquilharias e sempre pergunta as mesmas coisas sobre os pontos turísticos, e com tudo isso eles não sabem responder a uma pergunta comum sobre um ponto turístico que faz sombra sobre o local de trabalho deles!!! Pelamordedeus! É o cúmulo da falta de preparo, de tato, de inteligência mesmo. Puto da vida, me dirigi a outra barraca, onde pensei ter identificado alguém com semblante livre de estupidez e o argui no meu excelente inglês sobre a torre. Ele disse que era aquela mesma e me indicou o caminho por onde eu acharia a entrada. Porra! Tão simples! Foi aí que Josi pediu uma água com gás pro camarada e ele disse o preço em português ao entregar a garrafa... O cara era brasileiro, e eu lá, gastando o inglês que não possuo para pedir informação.


Piazza delle Erbe


Piazza delle Erbe


Torre dei Lamberti vista da Piazza delle Erbe


Já na bilhteria para subir a torre, apesar do Verona Card, tivemos que pagar 1€ cada um para usarmos o elevador. Pode crer: vale a pena pagar! A torre tem 84 m e subir isso tudo por escada não me parece uma atitude muito inteligente, quando temos à disposição um elevador. No elevador lembro de ter visto uma folha com um monte de coisinhas escritas em italiano, inglês e alemão, mas eu não estava com paciência para ler aquilo tudo. Quando o elevador chegou ao seu destino e abriu as portas pudemos ver o quão alto estávamos. A vista de Verona dali de cima é muito, mas muito foda!!! E olha que não estávamos no topo ainda, pois havia umas boas dezenas de degraus em uma escada em caracol até o topo. Subimos e chegamos até um lugar onde havia três sinos: um grande no meio e dois menores nas laterais. Olhamos a vista dali e depois eu percebi que ainda dava para subir mais um pouco. Josi arregou, pois suas pernas estavam doendo, mas eu queria subir para tirar fotas maneiras. Continuei subindo e aí uma coisa me veio na cabeça: essas porras desses sinos tocam? Ainda gritei para Josi lá embaixo perguntando isso, e perguntando as horas, mas ela não me deu confiança, então continuei subindo. Vi que havia outro sino lá em cima, maior que o outro, e fui subindo... Até que cheguei ao topo. Caralho!!! Que visual foda! E eu estava ali sozinho, não havia mais ninguém. A torre era só minha. Fiquei ali, embasbacado, só olhando, por um tempo, depois comecei a tirar fotos. Foi quando aconteceu a hecatombe! Achei que o mundo estivesse acabando: Béééén! Um arrepio frio percorreu minha coluna e fez com que até os cabelos do meu cu se arrepiassem. Béééén! Um litro de adrenalina foi despejado em minha corrente sanguínea. Béééén! Minha respiração foi suspensa. Béééén! Senti o sangue se esvair das minhas faces. Béééén! Quis gritar, mas não consegui. Béééén! Não me caguei porque não tinha merda pronta. Béééén! Aí me dei conta de que era a porra do sino que estava batendo. PUTAQUEPARIU!!! Que susto do caralho! Comecei a rir sozinho, não sei se realmente achando graça ou se de nervoso, só sei que uma garota branca como uma vela (devia ser dinamarquesa, sueca ou norueguesa) que vinha subindo as escadas olhou para mim como se eu fosse demente. Desci as escadas com vergonha e quando cheguei onde Josi estava ela quase se mijava de rir e dizia que havia me avisado. Avisado o caralho!!! Quando ela parou de rir resolvemos descer. Aí que eu fui ler os recados do elevador... Lá dizia: ATENÇÃO, O SINO TOCA DE MEIA EM MEIA HORA. Nessa hora que eu juro que eu não xinguei.



Palazzo della Ragione com a torre



Verona do alto da torre. A Arena ao centro.



Verona do alto da torre



Uma das pontes


O Palazzo della Ragione visto do alto da torre


Sinos bonzinhos


Sino malvado


A Torre dei Lamberti faz parte do conjunto do Palazzo della Ragione. Já que estávamos ali, resolvemos dar uma olhada. O palácio é um quadrilátero com um pátio no interior. Ficamos neste pátio admirando a construção, inclusive a torre. Em um dos lados do quadrilátero há uma escada, a Scala della Ragione, que leva até uma porta no alto do palácio. Essa escada deve ser famosa, pois tem até uma placa com o nome dela... vai saber. Se havia algo mais a ser visto nesse palácio, não sabemos, pois não ficamos pra ver. Já estava entardecendo e ainda teríamos que visitar a casa da Julieta. O leitor mais desavisado (burrão, mesmo) pode estar se perguntado: “Quem é essa tal Julieta que ele tanto fala? Será uma conhecida dele que mora em Verona?” Bom, se alguém realmente se fez essas perguntas, eu não vou me dignar a responder. O que interessa é que rodamos, rodamos, rodamos e encontramos a tal casa.


Palazzo della Ragione


Scala della Ragione

É praticamente impossível passar em frente à casa e não notar que há algo diferente ali. Primeiro porque há sempre um enxame de gente (japoneses na maioria) nos arredores; segundo porque os muros estão completamente pichados com cores berrantes, o que destoa do tom sóbrio do resto das casas; terceiro porque tem uma placa de todo tamanho dizendo CASA DI GIULIETTA. A porta indicada por essa placa não é a porta da casa, e sim de uma vila. Sabe a vila do Chaves? Pois é, a Casa da Giulietta é numa vila como aquela. No pátio da vila, ao fundo, está a famosa estátua da Julieta, com o bronze já desgastado em seu seio direita, de tanto o povo tirar foto segurando ali. Há uma tradição (!) que diz que dá sorte fazer isso. Eu não acredito muito nisso não, mas, pelo sim, pelo não, melhor não dar chance pro azar. O foda é que, assim como eu, trocentas pessoas queriam fazer a mesma coisa. E o que acontece quando muitas pessoas querem fazer a mesma coisa? Fila! E lá estava eu na fila, aguardando pacientemente chegar a minha vez de apalpar as brônzeas tetas da Julieta, quando um povo sem noção foi chegando e tomando a frente, saindo na foto dos outros... Josi, que estava com a câmera para tirar uma foto minha, queria matar uma dúzia de pessoas das mais diferentes nacionalidades. Com muito custo consegui me agarrar à peitola da Juju (intimidade pouca é bobagem!), mas não consegui me livrar dos malas: nas duas tentativas de foto dois véios babacas diferentes resolveram dividir a cena comigo. Na hora queria mandá-los tomarem em seus respectivos cus em suas respectivas línguas pátrias, para que entendessem a minha ofensa, mas depois fiquei com pena: os véios só queriam apalpar um peitinho durinho, tadinhos! Hahahaha!


Acho que a foto dispensa legendas


Pátio da vila do Chaves, digo, da vila da Julieta


Primeira tentativa de bolinar a Juju


E a segunda tentativa... velho fdp!


No lado direito da vila, quase em frente à estátua, fica a famosa casa da Julieta. Entrar nela é bem mais fácil que tirar foto com o peito da moça na mão, por um motivo simples: a foto é de graça, e na casa você paga para entrar. A atração está incluída no Verona Card. Josi entrou primeiro e subiu as escadas para chegar até o famoso balcão na janela do segundo andar, enquanto eu fiquei no meio da muvuca embaixo, do lado de fora, para tirar as fotos. No geral as pessoas que chegavam ao balcão olhavam pra baixo enquanto eram fotografadas, e pronto. Quando Josi chegou na sacada e começou a fazer poses, cheia de  caras-e-bocas, a platéia começou a aplaudir. E, ao invés de ficar com vergonha, aí é que ela fazia mais e mais poses, para delírio dos seus fãs... Eu mereço!!!


O famoso balcão da casa da Julieta


Josi fazendo micagens no balcão

Depois do ataque de estrelismo de Josi eu também entrei na casa. Nada demais, a não ser os quadros e gravuras que recriam as cenas onde Shakespeare discorreu sobre o amor entre Romeu e Julieta, e sobre ódio entre as famílias Montecchio e Capuleto. Legalzinho, mas nada demais. Na saída da vila, num ataque de vandalismo, Josi rabiscou nossos nomes em uma das paredes: outra tradição do lugar... Dizem que garante felicidade no amor. Mas a julgar pelo final da história de Romeu e Julieta, sei não... Te esconjuro, Pé-de-pato! Mangalô três vezes!


Eu e o Shake (Shakespeare)


Josi vandalizando em Verona

Bom, quase cinco da tarde, era hora de ir embora. Pegamos o Gaspa e, dessa vez, programamos a miséria do GPS para aceitar caminhos com pedágio (auto-estradas). E Verona foi ficando para trás. Ahn? O quê, curioso leitor? Se eu voltaria a Verona? Sim, com certeza. Nem tanto pelo que vimos, que também foi muito interessante, mas pelo que NÃO vimos. Explico: Verona, pelos seus mais de dois mil anos de história, merece uma visita com mais tempo. Sendo bastante restritivo, pelo menos uns dois dias inteiros. Praças, igrejas, castelos, arenas, teatros, templos, pontes... é muita coisa pra ser vista! E nós não vimos praticamente nada. Basta dizer, por exemplo, que Verona foi a única cidade visitada em que não entramos em NENHUMA igreja. Isso sem falar da noite veronese, que deve ser bem interessante. Em suma, quero voltar, e com mais tempo.

A 150 km/h a viagem de retorno foi rápida e tranquila, pelo menos até nos avizinharmos de Veneza, onde teríamos que abandonar a auto-estrada em que estávamos para pegar outra na direção de Treviso. Aí fudeu tudo! A desgraça do GPS despirocou e nos fez cair numa cidadezinha do tamanho de um ovo de pardal. Aí o ignóbil leitor dirá: “Ah! Se era assim tão pequena, deve ter sido muito fácil achar o caminho certo.” Fácil PORRANENHUMA, seus zés-bucetas!!! Parecia que estávamos num filme non-sense: rodávamos, rodávamos, rodávamos, e passávamos pelos mesmos lugares, e o satanás do GPS só falava baboseira: dobre a direita, onde não havia rua à direita; contorne a rotatória, onde não havia rotatória; dobre na puta-que-o-pariu à esquerda, onde não havia puta-que-o-pariu... Até que desliguei o miserável e decidi seguir as placas. Finalmente saímos da micro-cidade, e caímos em outra!!! Êta, porra! “Josi, liga esse caralho desse GPS pra ver se ele se encontra aqui.” GPS ligado, o estupor nos diz para entrar numa rua sem saída. Quando eu manobrava para sair da rua sem saída – Ôpa, péra aê! Se a rua era sem saída, como eu manobrava para sair dela? Ah! Não sei. Só sei que o fato é que quando eu manobrava para sair da rua sem saída o infame do GPS resolveu recalcular o percurso, e travou. Agora peço ao persistente leitor que se imagine dentro de um carro, numa cidade de um país estranho, com sérias dificuldades de comunicação com os nativos, já perto de anoitecer, perdidaralhaço, sem fazer a mínima idéia de qual caminho o conduzirá rumo à segurança da casa de seus familiares, E COM UMA PORRA DE UM GPS COM UMA VOZ FEMININA ROBÓTICA REPETINDO INSISTENTEMENTE, EM ITALIANO, RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO... RRRRICALLLLCULANDO (...) RRRRICALLLLCULANDO.......................... Porra! Vai tomar no caralho do cu, desgraça do inferno!!! “Josi, desliga essa buceta (note, leitor de merda: essa buceta = GPS)!” Pra resumir: depois de nos perdermos em mais trezentas micro-cidades, finalmente encontrei um camarada que me deu uma informação decente. Seguindo a dica dele consegui encontrar a auto-estrada certa, e aí a bosta do GPS se encontrou no mundo, e chegamos em Arcade às 20:00. Ufa!!!

Ah! Em casa descobri que o limite de velocidade era de 130 km/h.

Europa 2011 - Capitulo III - A terra das cenouras gigantes, o etanol, e a 3ª lei de Newton.



Sábado, 10 de setembro. Não me recordo muito bem do início desse dia, só sei que saímos eu, Josi e Junior e fomos comprar artigos de necessidade básica: cerveja e carne!!! Cara, na boa, o paraíso deve ser parecido com um supermercado italiano! Não sei se todos são assim, mas as grandes redes, pelo menos, têm uma variedade absurda de produtos, desde prosciutto crudo até bateria para carro. Mas o que emociona, o que fascina, o que comove mesmo, é a seção de bebidas. Sabe quando o Pernalonga subiu pelo pé-de-feijão e chegou na terra das cenouras gigantes? Então, a sensação é a mesma. Uísques tops, runs de tudo que é tipo, conhaques v.s.o.p., vinhos maravilhosos de todas as regiões produtoras da Itália, e tudo isso a um preço decente. Os vinhos então, meu Deus! MEU DEUS!, baratos, muito baratos! Com 3 a gente compra vinhos absurdamente deliciosos. E lá – paradoxo dos paradoxos! – até os vinhos ruins são bons!!! Meio desnorteados ante tantas maravilhas, nos aproximamos sem perceber do altar supremo da nossa fé etílica: A ALA DAS CERVEJAS!!! Lagers, ales, bocks, IPAs, strongs, weiss, hells, dunkels, wits, pilsners, de abadia, trapistas...; dopels, tripels, quadrupels...; as mais variadas combinações de lúpulos...; italianas, alemãs, belgas, holandesas, austríacas, tchecas... É o êxtase! Oh, Senhor, obrigado por ouvir nossas preces!

Enchemos dois carrinhos grandes, um com coisas sem importância e outro com bebidas (conhaque, vinho e cerveja), e saímos. Fomos para um mercadinho de frutos do mar. Cara, que lugar maneiro! Tinha tudo que fosse necessário para fazer qualquer prato com frutos do mar, desde os próprios (em profusão), até os temperos e acompanhamentos. Tudo congelado de uma forma que até agora eu não entendi como eles fazem. Você vê os bichos congelados, mas não vê vestígio de gelo agarrado neles. Compramos umas tantas conchas de não-sei-que molusco, uns tantos gramas de um cogumelo muito bom (bom pra comer, não pra fazer chá, psicodélico leitor) e umas tantas postas de não-lembro-qual peixe.

Depois rumamos para um açougue. Eu digo açougue porque lá vende carne, mas se fosse aqui se chamaria casa de carnes, ou seja, um açougue metido a besta. Esse açougue, o Colomberotto, fica perto de Montebeluna, e compra a carne produzida na fazenda onde o irmão de Josi trabalhava quando morava na Itália. Compramos uns tantos quilos de carne para o churrascão que iria rolar à noite justamente na supracitada fazenda, onde moram e trabalham amigos nossos. De lá passamos na casa de um amigo de Junior para pegar um GPS emprestado para nos orientar nas viagens que começaríamos a fazer. Só que quando cheguei em casa vi que no GPS não constava o mapa da Áustria. Putz! E agora? Ah! Foda-se! Depois dá-se jeito...

De noite fomos pro churrasco na fazenda em San Donà di Piave. Carne, cerveja, vinho, conhaque, cachaça, uísque... que beleza! É desnecessário dizer que choveu tijolos essa noite, e muitos deles atingiram os participantes do churrasco, inclusive este que vos narra. Nas fotos abaixo podem ser constatados os estragos causados pela inusitada intempérie. Sem a menor condição de deixarmos o local, dormimos por lá mesmo.



Affligen tripel: cerveja de abadia belga com 9,5% de álcool



Alan e Ismael tomando cerveja de colherada

 

Junior em momento de muita sobriedade


 
Quanta felicidade!!!


O coral...


... e a regente


Sem comentários



A Pilsner Urquell, a primeira cerveja pilsen do mundo, e a Caninha 51. Rep. Tcheca e Brasil. E eu tava enxergando mais ou menos assim.




No outro dia, 11 de setembro, eu acordei pra descobrir que deveria ter continuado a dormir. Parecia que minha cabeça havia sofrido um atentado terrorista. Para ilustrar a situação, transcreverei aqui a última estrofe da quinta parte do texto Sobre o etanol e a 3ª lei de Newton, da lavra deste embriagado escriba.
Me sinto um bolo ruminal mascado por uma vaca,
um ovo no cu da galinha – o  cu da galinha é a cloaca.
Beber é uma coisa tão boa, mas... Êta, porra de ressaca!!!
Estava meio que combinado que nesse dia nós iríamos dar umas voltas por Pádua e Verona, aproveitando o domingo para que Kéia e Junior pudessem ir conosco. Só que, além de Junior não ter demonstrado muuuuuuuuito interesse na coisa, seria a comemoração de um ano de casamento do Alan e da Valéria – amigos nossos que moram lá – , e ele praticamente me obrigou a confirmar presença na furrupa, de modo que mudamos os planos e jogamos a visita de Pádua e Verona para segunda-feira, no lugar de mais uma ida pra Veneza. Também firmamos outro compromisso que tomou o lugar de uma segunda visita a Veneza: um churrasco na casa de um casal de italianos amigos dos nossos parentes, no dia 1º de outubro, dia subsequente ao que retornaríamos de nossa viagem dentro da viagem.
Voltamos pra Arcade, ajeitamos umas coisas e fomos pro aniversário de casamento. Chegando lá eu até tentei fazer descer uns goles de cerveja, mas a coisa tava triste! Com a desculpa de assistir ao GP de Monza de F1 entrei na casa deles e me estirei no sofá junto com a minha ressaca. Nisso aparece o Tequinho, e eu conto pra ele meus pobremas com o GPS. Ele, mui solicitamente, disse que eu poderia ficar com o do carro dele durante minha estadia na Oropa. Beleza! Não me perderia pela Áustria e Alemanha. Um tempo depois me levantei melhorzinho e fiz nova tentativa com a cerveja. Ôpa! até que não está tão ruim! Mais uns goles. É, sabe que até tá bebível?! Minutos depois: Porra! Enche meu copo que eu estou com sede, caralho! Foi nessa hora que Kéia nos chamou para irmos embora. Ela estava na direção e, consequentemente, não estava bebendo. E, consequência da conseqüência, queria chegar logo em casa para encher o pote também. Caramba! justamente na hora em que a festa estava ficando boa... Mas tudo bem, continuaríamos em casa. Só que a galera fez a gente tomar a saideira. E uma saideira chama a outra. E Kéia também chama, só que para ir embora. E outra saideira. E Kéia fechou a cara. E só mais essa pra acabar. E Kéia batendo o pé. E essa é a última mesmo... Kéia partiu pro carro embucetada. Junior me puxou pelo braço: vamos embora senão vou apanhar! Hahahahaha!
E foi assim. Nos encaminhamos para Arcade para terminarmos o processo embriagatório, com direito à parada no caminho para mijarmos na estrada. No outro dia iríamos num bate-e-volta para Pádua e Verona.