quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Europa 2011 - Capítulo II - Veneza: todos os caminhos levam a San Marco


Sexta-feira, 9 de setembro, cansados da viagem acordamos lá pelas 09:00. Junior e Kéia já haviam saído para trabalhar. Tomamos o café e ficamos ali, olhando um para a cara do outro. O que fazer para matar o tédio que nos matava?

- Ah!, sei lá, de repente poderíamos ir almoçar ali em Veneza.

- É, já que não há nada melhor...

Hahahahahaha! Tá, eu sei, nobre leitor, que o diálogo acima está pra lá de esnobe, mas foi justamente o que aconteceu. Então bora pra Veneza. Seria nossa primeira aventura, só nós dois, num mundo desconhecido, com pessoas de idioma e costumes estranhos. Na verdade já havíamos feito exatamente a mesma coisa (ir pra Veneza sozinhos) há pouco menos de dois anos, mas isso não vem ao caso.

Bom, primeiro teríamos que pegar um ônibus de Arcade até Treviso, e lá pegar o trem até Veneza. Lá fomos nós para a pracinha da igreja de Arcade. Compramos os bilhetes do ônibus com a mocinha da loja de badulaques e nos informamos sobre onde era o ponto de ônibus. Ela nos indicou um local específico na praça, que eu entendi ser em frente a uma placa azul com um P. Ficamos ali parados, esperando, e nada. Daí notei que em volta de toda a praça havia placas azuis com P’s. Caraca!, não é possível que haja tantos pontos numa praça minúscula como essa! Aí que a ficha caiu: o P era de parcheggio, estacionamento, e não de ponto de ônibus, que é fermata, parada. E nós sabíamos as duas coisas, mas comemos mosca. Entramos num barzinho pra perguntar direito sobre onde era a fermata. Agora sim, estávamos no lugar certo, em frente ao ponto, era só esperar. Esperamos... esperamos... esperamos... esperamos mais um pouquinho... e mais... mais... mais... Porra!, não é possível! Kéia tinha falado com a gente que havia ônibus de meia em meia hora. Havia um quadro com os horários de ônibus, mas quem é que entende isso?

Decifra aê, fodão!


Me debrucei sobre este quadro como Champollion sobre a Pedra de Roseta e, depois de um grande esforço mental, descobri que os hieróglifos ali diziam que de 09:07 até 12:22 não haveria ônibus. Cara, isso não existe, pqp! Voltamos frustrados para casa e esperamos até 12:00.

Segunda tentativa de pegar ônibus para Treviso: dessa vez deu certo. Aí saímos do terminal rodoviário e fomos para a estação de trem. Compramos os bilhetes de andata i ritorno para Veneza e logo, logo estávamos no trem.

Fato a ser ressaltado: em janeiro de 2010, em nossa primeira viagem fora do Brasil, já havíamos ido a Veneza com a parentada e amigos brasileiros que moravam na região de Treviso, quando, por ser perto, decidimos ir novamente a Veneza, só que dessa vez sozinhos. Compramos os bilhetes Treviso x Veneza, entramos no trem e nos acomodamos muito satisfeitos com nossa proeza. Passado um tempo depois que o trem já estava em movimento surgiu ele, O FISCAL!!! Na Europa, de um modo geral, não há cobradores nos transportes públicos (trens, bondes, metrôs e ônibus), de modo que, se a pessoa quiser, ela viaja de um lado pro outro sem pagar nada. Então por que as pessoas compram os bilhetes?, me pergunta o desavisado leitor. Porque existe ele, O FISCAL. Não existe um fiscal para cada viagem, e é até raro ver um. MAAAAAS, se ele entrar e pegar alguém sem bilhete é polícia na certa, e multa de uns 200 €, fora a vergonha. Então, voltando ao caso, eis que surge ele, O FISCAL. Começou a pedir os bilhetes da galera e quando chegou a nossa vez eu dei aquele sorriso desdenhoso de canto de boca, como quem diz “comigo você se fudeu”, e entreguei a ele nossos tickets. Ele olhou, falou alguma coisa em italiano e apontou o fim do vagão. Olhei pra Josi, que pela cara também não havia entendido porra nenhuma... Olhei de volta para o fiscal e imitei a cara de Josi. Aí ele apontou novamente o fim do vagão e disse algo em inglês, do que eu só entendi first class. Mas bastava isso. Pqp!, estávamos num vagão de primeira classe com bilhetes de segunda, e o camarada nos convidava gentilmente a nos retirarmos para o vagão correspondente. Nos levantamos e, sob o olhar reprovador do fiscal e dos outros passageiros, nos arrastamos, cobertos de vergonha, para o outro vagão. Dessa vez ficamos velhacos com isso e entramos no vagão certo. Meia hora depois estávamos na estação de Santa Lucia, em Veneza.

Na mesma proporção em que alguns se derramam em elogios para Veneza, já vi muita gente se dizendo decepcionada e descendo a lenha na cidade. Eu penso o seguinte: uma cidade onde as ruas são canais; onde táxis, ônibus e carros, mesmo os da polícia, as ambulâncias e os do serviço de coleta de lixo, são lanchas; que pela sua localização privilegiada foi o centro do comércio e do poder do velho mundo durante séculos, e com isso recebeu influências culturais diversas que se refletem em seu casario único e em uma imensidade de becos e ruelas labirínticas é, no mínimo, uma cidade digna de se conhecer, nem que seja para se dizer depois que não gostou. Eu gostei. Muito! Pode até ser que tê-la visto a primeira vez no inverno, toda nevada – um outro mundo aos meus olhos tropicais – tenha relevante contribuição sobre a impressão que tive, mas o fato é que Veneza me pareceu um lugar de ficção, mágico mesmo, e foi essa primeira impressão que ficou. Tanto é que, nessa primeira vez, quando o trem atravessava a ponte deixando a ilha rumo ao continente, e eu via a cidade ficando pra trás, me deu uma sensação ruim de que nunca mais iria ver aquele lugar mágico.

Mas ali estávamos nós, menos de dois anos depois, novamente fascinados, nas escadarias da estação de Santa Lucia, só que num calorão do carái! A localização da estação não poderia ser mais estratégica: você sai do trem e não vê nada demais, aí passa pelo saguão, atravessa uma porta e, como se tivesse passado por um portal interdimensional, se vê numa escadaria em frente a uma praça, limitada pelo Grande Canal, e do outro lado deste o casario de arquitetura quase árabe com a cúpula não sei de que igreja ao fundo...: SUR-RE-AL!!!

A primeira foto em Veneza, há dois anos, numa friaca brutal


Só que estávamos ali para almoçar, devia ser mais de 14:00 e a fome já era grande. Acho que não andamos nem duzentos metros e topamos um camarada que ficava na calçada à caça de fregueses para um restaurante. Disse a ele que queríamos comer frutti di mare. Ele respondeu que essa era a especialidade da casa e nos mostrou um aquário com uma lagosta que mais parecia um monstro pré-jurássico. Aproveitei para dar uma olhada nos preços do cardápio que estava aberto ao lado do aquário: nada de anormal. Ok, nos convenceu. Ele foi nos conduzindo restaurante adentro e, quando vimos, estávamos numa varanda sobre o Grande Canal. Putaquepariu!, que vista foda! Primeiro ele nos arrumou uma mesa mais interna, e depois nos trocou para uma bem em frente à água. Engraçado que quando passava algum barco, sempre lotado de japoneses, eles ficavam batendo foto e acenando pra gente. Nesse dia, no começo da viagem, eu ainda achava que japoneses sem noção eram engraçados...

Pagando de bacana em Veneza


Pedimos de entrada um prato de ostras num caldo de limão siciliano e, pra beber, acqua frizzante – gente fina é outra coisa! O prato principal foi spaghetti al frutti di mare. Como dá pra perceber nas fotos abaixo, estava sensacional!!! Acho que foi a melhor refeição da viagem, junto com a de Herculano.

Ostras de entrada: hoje a jiripoca vai piar!


Muito bom!!!


Depois do almoço fomos rodar por Veneza. A primeira parada foi na igreja de Santa Lucia (Santa Luzia), que é bem pertinho da estação. A igreja, para os padrões de igrejas italianas, não tem nada demais – quadros, esculturas... A maior atração, se é que assim se pode chamar sem incorrer em blasfêmia, é o corpo de Santa Luzia, que fica exposto dentro de uma cripta de vidro no fundo do altar principal. O rosto é coberto por uma máscara, acho que de prata, enquanto o restante do corpo é envolvido por uma túnica vermelha, à exceção das mãos e dos pés, que estão visíveis. Digamos que o estado de conservação não seja dos melhores, mas dá pra perceber as formas exatas de pés é mãos, só que a textura da pele lembra a de folhas secas. As pessoas podem passar por trás da cripta e contemplar bem de pertinho o corpo da santa. Não é permitido tirar foto, mas acho que a câmera disparou sem querer e capturou uma imagem da frente da cripta, tchu ru ru ru...

Foto "acidental" do corpo de Santa Luzia


Exterior da "Chiesa di Santa Lucia"


Nessa manhã, antes de sairmos de casa, dei (ia escrever havia dado, mas me soou meio estranho) uma pesquisada em pontos turísticos de Veneza, e me chamou a atenção uma foto da igreja de Santa Maria dei Miracoli. Resolvemos procurar a tal igreja. Em Veneza há dois pontos turísticos muito bem sinalizados: a Piazza San Marco e a Ponte di Rialto. Seja qual for o lugar de Veneza em que você esteja, é muito provável que encontre alguma placa informativa sobre a direção desses dois pontos. Já o resto... Ou você compra um bom mapa e confia cegamente em seu senso de orientação, ou faz como nós fizemos: sai perguntando. De dez em dez metros perguntávamos sobre a direção da igreja. Quando eu digo aqui, e em todos os relatos posteriores, que perguntávamos, entenda o incauto leitor que eu perguntei. Sim, pois Josi, diante da mera possibilidade de ter que perguntar qualquer coisa a alguém que não falasse português, era acometida por um pavor súbito que quase a desfigurava. Exceção feita aos vendedores de bugigangas: com esses ela poderia passar horas a fio perguntando e entendendo as respostas, mesmo que o interlocutor fosse um vietnamita mudo. Mas voltando à nossa saga... Lá fomos nós no encalço de Santa Maria dos Milagres, perguntando aqui e ali, atravessando pontes, quebrando em becos, descobrindo praças, até que chegamos ao Campo dei Santi Apostoli, que era a referência da igreja de Santa Maria dos Milagres. Procura daqui, olha de lá, cadê a tal igreja? Perguntamos, nos responderam, fomos lá e... “Peraê! Essa não é a igreja de Santa Maria dei Miracoli!” Mas era. Depois que fui saber que a igreja que eu havia visto na internet era a de Santa Maria della Salute, que fica na foz do Grande Canal, na margem oposta à praça de São Marcos. Puta merda! Que bola fora da porra!

Bom, já que estávamos ali, bora aproveitar. Contornamos a igreja para apreciarmos todos os ângulos da parte externa da mesma, tiramos algumas fotos e fomos para a porta de entrada. Não me lembro se não estava em horário de visita ou se era necessário pagar para entrar e não nos dispusemos, só sei que dei uma olhada para o seu interior por uma fresta da porta. Pareceu-me ser bem bonita por dentro.

Igeja de Santa Maria dei Miracoli


E agora? Pra onde ir? “Ah!, quer saber?, vamos pra Rialto que pelo menos a gente sabe o que é.” E fomos. Seguimos as várias plaquinhas e chegamos lá. A ponte de Rialto foi a primeira construída sobre o Grande Canal, e ficava perto do mercado de Rialto, daí o nome. Por ser a ponte mais famosa de Veneza, nem preciso dizer da quantidade absurda de japoneses que se aglomerava nela. Por falar nisso: sei que o Japão tem uns 130 milhões de habitantes que vivem espremidos naquele amontoado de ilhas lá deles, mas viajando pela Europa é difícil não pensar que o Japão seja um deserto, pois a impressão que se tem é que todos os japoneses do mundo estão exatamente no mesmo lugar que você, não sobrando nenhum lá no Japão. E isso irrita! Ainda mais quando constatamos que aquele papo de respeito, formalidade e educação dos orientais só existe em filme de samurai. Na realidade os japas, pelo menos os turistas, são muito mal-educados: andam em bando de pelo menos uns 30 atravancando a passagem de quem quer que seja, entram na sua frente quando você está batendo uma foto, furam fila na maior sem-cerimônia... A estratégia deles para furar fila é muito pitoresca: eles vão chegando, sempre em bando, se aproximando pouco a pouco pela lateral da fila, sorrindo aquele meio-sorriso sonso com uma cara estúpida que só um japa furão de fila consegue ter, como se ninguém estivesse percebendo que a fila à frente aumentou em umas 50 pessoas, e furam. FILHOSDAPUTA!!! E se você bate no ombro de um deles e diz em alto e bom som para que todos ouçam, escandindo bem as sílabas para que todos entendam, no mais perfeito inglês que você consegue, “Ô japa da minha rôla, there is a queue!!!”, ele vai olhar pra você sorrindo o mesmo meio-sorriso boçal de sempre e continuar no mesmíssimo lugar, sereno como um buda. Daí, ou você procura uma ripa para esfacelar o crânio do infeliz e de mais toda a gangue ninja, ou se resigna e só faz xingar e amaldiçoar o bando de cornos nipônicos.

Depois deste libelo contra os japas (só contra os sonsos mal-educados), voltemos ao Rialto. Sobre a ponte existem hoje várias lojas de ourivesaria. Nós, como bons pobres (literalmente) mortais, nem demos importância a elas. Tiramos, com muito custo, as tradicionais fotos com a ponte ao fundo, e depois sobre a ponte tendo o Grande Canal como pano de fundo. E continuamos o passeio.

A Ponte de Rialto. Onde está Wally?


Sobre a ponte


Rumamos para a praça de São Marcos. Apesar do labirinto que é Veneza, chegar até a praça é muito fácil: basta seguir o fluxo de turistas (leia-se: japas!) e/ou as plaquinhas de sinalização. Isso é normal, e é o mínimo que se espera de uma cidade tão intrinsecamente turística. Mas e quando você se vê diante de uma placa como essa abaixo? Fala sério! Tem coisas que só Veneza faz por você.

E agora, José, digo, Josi?


E o pior é que é verdade! Em Veneza você pode rodar ao léu, se perder, andar em círculos, mas vai terminar por se ver no centro da piazza San Marco, de onde se conclui, mui acertadamente, que, pelo menos em Veneza, TODOS OS CAMINHOS LEVAM A SAN MARCO! E lá estávamos nós. De novo. Fooooooooodaaaaaa!!!

A praça é um espaço aberto plano, em L, ladeado por várias construções bem imponentes (mas que bem mereciam uma limpeza nas fachadas), entre as quais eu destaco a Torre dell’Orologio, que é, como o nome diz, uma torre com um relógio, só que com os símbolos do zodíaco e as fases da lua, em azul e dourado; o Campanile, a gigantesca torre do sino em frente à basílica de São Marcos; a própria basílica, que é uma das igrejas com o exterior mais foda que eu já vi, completamente diferente do que nós aqui no Brasil estamos acostumados, pois ela possui um estilo bizantino; e, ao lado da basílica, o Palazzo Ducale, que no período áureo de Veneza foi a residência do Doge (o chefe vitalício não-hereditário escolhido pela aristocracia) e centro administrativo da cidade. Uma das extremidades do L tem saída para o mar, bem próxima à foz do Grande Canal.

Piazza San Marco do lado do mar (não dá pra ver a água, eu sei, mas não enche o saco!)


Na praça, depois do embasbacamento inicial, nos dirigimos para um ponto central e nos sentamos no chão mesmo (sentar num dos cafés da praça é o mesmo que ser assaltado com consentimento prévio), e ficamos observando o movimento: um monte de turistas fazendo as mais variadas poses com a basílica ao fundo, na maioria das vezes cercados por uma nuvem de pombos que se digladiavam em busca do farelo de pão ou milho que os turistas oportunamente carregavam. A fachada superior esquerda (de quem olha) da basílica estava em obras de restauro, o que acabou cagando as fotos. Também havia tapumes cercando uma extensa área da praça por trás do Campanile que também não contribuía para o embelezamento do lugar. Ainda assim a piazza é muito legal. Dá vontade de ficar ali, à-toa, batendo fotos e vendo o tempo passar... Aí acabou a bateria da câmera. Que beleza!

Nós e a basílica de San Marco


Sentados no chão da praça


Antes de voltarmos para a estação resolvemos dar uma olhada na Ponte dei Sospiri, que é uma pontezinha ligando o Palazzo Ducale às masmorras das Prigioni Nove. Tem esse nome porque os prisioneiros julgados e condenados suspiravam profundamente ao verem a luz do sol pela última vez quando a atravessavam em direção às masmorras. Pois é, fomos lá ver a tal ponte. E até vimos, mas ela também estava em reforma. E como a reforma era patrocinada pela Tim, tudo em volta da ponte estava coberto com uma porra de um banner azul que fodia com o visual pós-medieval da coisa. Malditos!

A cagança que fizeram com a Ponte dos Suspiros


O caminho de volta foi uma via-sacra porque eu resolvi “cortar caminho” e “navegar por mares nunca dantes navegados”. Quando estávamos na Ponte dos Suspiros, ao invés de voltarmos para a praça, e de lá pelo mesmo caminho pelo qual viemos, eu, com meu sensacional senso de orientação, decidi ir pelo outro lado, para ir conhecendo lugares novos. Josi ainda tentou me avisar que iria dar merda, mas eu insisti: “Take it easy, baby! Tá comigo, tá com Deus. Eu tenho um GPS no cérebro.” Bom, deu merda! Rodamos, rodamos, rodamos, rodamos pra caralho, até eu admitir que não fazia a menor idéia de onde estávamos e de qual direção seguir, num lugar pouquíssimo movimentado e sem nenhuma plaquinha de informação. É impressionante como os becos de Veneza podem ser confusos!...

Pane no GPS cerebral

Foi aí que avistei um véio com cara de quem saberia me dar uma informação decente. Perguntei a ele sobre a direção da estação de Santa Lucia... Meu Deus, foi a nossa perdição!!! A miséria do véio quis saber de onde éramos, onde ficávamos, o que iríamos fazer, depois contou umas estórias lá dele que eu não entendi porra nenhuma, disse que era alemão, morava na Itália e falava português, disse que não havia estação de trem em Veneza, só de barcos... Pqp! Que merda de véio doido! Eu expliquei pra ele que era a estação de trem que saía de Veneza e ia para o continente, daí ele fez uma cara de quem sabia do que eu estava falando e tentou nos explicar o caminho. Mas, vendo que não entendíamos nada, ele resolveu nos mostrar o caminho pessoalmente. E partiu andando na frente, falando um monte de coisas incompreensíveis, e nós atrás dele. Eu nem olhava direito pra Josi, pois sabia que ela estava querendo me matar. Sei que o véio deu umas três voltas ao redor do mundo e nos deixou em um lugar que não era muito diferente de onde havíamos nos encontrado. Fosse como fosse, agradecemos (pelo menos ele teve boa-vontade!) e nos despedimos. Assim que saímos da vista do homem eu achei que Josi fosse me agredir, mas ela não disse nada (o que é bem pior que um chute nos ovos!) (ou não). Apenas tomou a frente e nos conduziu de volta a San Marco, e de lá seguimos o caminho tradicional para a estação. Pegamos o trem (segunda classe, lógico) e em pouco mais de meia hora estávamos em Treviso, onde Kéia nos buscou com o Trovão Azul e nos levou para casa, em Arcade.

À noite fomos os quatro a uma pizzaria em Treviso. Já a conhecíamos da viagem anterior, quando, inclusive, ganhei da dona do estabelecimento um copo (o copo mesmo, não o conteúdo) de uma cerveja artesanal que eles servem lá. E não é que ganhei outros dois copos dessa vez também!? Entre as cervejas que bebemos nessa noite, uma era uma cerveja branca, que veio num copo estiloso. Foi amor à primeira vista. Chamei a mocinha simpática que atendia nossa mesa e perguntei se os copos estavam à venda. Ela disse que não, mas foi perguntar para a dona da bagaça. Daí a pouco volta a mocinha simpática com uma sacola com dois copos embrulhados dentro, dizendo que era regalo. Nem liguei!!! Na hora de pagar a conta fui com Junior até a gentil senhora dona do estabelecimento para agradecer. Pedi a Junior que dissesse a ela que há dois anos estivemos ali e da mesma forma ganhamos um copo dela. Ela respondeu que se lembrava da gente, vê só! Se foi mentira ou não, eu não sei, mas que da próxima vez vou levar um presente daqui do Brasil pra ela, ah!, isso vou! E vai ser cachaça! Os copos ela já tem.

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